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Linguagista

Como se critica por aí

Assim não, rico

 

      «Tal compreensão não se pode estender aos dias de hoje, quando temos às mãos os mais variados meios e ferramentas de pesquisa. Nem se admitir que numa final da Liga Mundial de vôlei feminino, vencida pela Itália, o tempo todo a Paolla Egonu, excepcional jogadora italiana, fosse tratada como Paôla, quando o correto é praticamente igual à do nome Paula, com a quase imperceptível alteração do “u’ pelo “o”. Assim como muitos insistem em chamar a atriz Paolla Oliveira de Paôla Oliveira, fomos obrigados a ouvir Paôla Egonu durante toda a transmissão de 4 sets da partida final. Ninguém nasce sabendo. Isso é fato. Também ninguém é obrigado a falar corretamente nomes estrangeiros. Mas quem trabalha com comunicação tem, antes de tudo, o dever de pesquisar para melhor informar. E isso, em pleno século 21, tornou-se tão possível» («Hoje não se permite mais falar errado o nome de ninguém», Flávio Ricco, Jornal do Commercio, 26.06.2024, p. 45).

      E escrever-se mal o mesmíssimo nome quando se está a criticar a pronúncia errada de outros, pode? Quanto à substância, está certo, o italiano Paola pouco difere do nosso Paula. Deve ser por ver lá um o que o falante de português começa logo a tergiversar e a inventar.

 

[Texto 19 978]

Léxico: «haredi | ultra-ortodoxia»

Já são nossos, caramba

 

      «A decisão dos magistrados confirmou, assim, uma decisão provisória anunciada em maio que sustentava que o Estado não detém autoridade para aplicar a atual isenção aos homens ultraortodoxos – os Haredi. O mesmo parecer concluiu que as yeshivas – seminários ortodoxos para o estudo da Torá – não deveriam ser elegíveis para subsídios estatais, a menos que os estudantes se alistassem nas Forças Armadas» («Supremo de Israel impõe recrutamento de ultra-ortodoxos», S. G., Jornal de Notícias, 26.06.2024, p. 26). A referência à ultra-ortodoxia dos haredis devia ser aproveitada para a definição de haredi. (Aportuguesado que está o vocábulo, S. G., é haredi/haredis; e saiba que temos jessibá, prescindindo-se assim de yeshiva.)

 

[Texto 19 977]

Léxico: «calculadora gráfica»

Mais uma

 

      «Para o exame nacional da disciplina, que põe hoje à prova mais de 38 mil alunos do 12.º ano, as calculadoras gráficas são tão essenciais como a caneta para resolver os exercícios. Por serem ferramentas tão sofisticadas, que permitem armazenar fotografias ou ficheiros de texto, são sujeitas a regras apertadas para evitar o uso de cábulas. Antes da avaliação, os alunos são obrigados a acionar o modo de exame da máquina, em frente ao professor, para impedir o acesso à memória do aparelho» («Calculadora gráfica sujeita a regras para evitar uso de cábulas», Sara Gerivaz, Jornal de Notícias, 26.06.2024, p. 22). O dicionário da Porto Editora apenas acolhe a modesta calculadora de bolso.

 

[Texto 19 976]

Léxico: «pesca | abafa»

Em três, apenas um

 

      «É apresentado amanhã o novo livro de João Carlos Brito, “Cenas à moda do Porto”, no Café Piolho, no Porto, que inclui a “Caderneta de cromos do tripeiro dos anos nobenta”. Estão prometidos “épicos torneios de jogos lúdicos e pedagógicos como a lerpa, a pesca, ou o jogo do abafa”» («João Carlos Brito apresenta novo livro amanhã no Café Piolho», Jornal de Notícias, 26.06.2024, p. 12).

 

[Texto 19 975]

Léxico: «loque americano»

Longe daqui, praga

 

      Na terça-feira, no Portugal em Directo da RTP1, disseram que foram encontrados dezasseis apiários na ilha do Pico afectados com loque americano, uma doença das abelhas altamente contagiosa, e cujo agente causal é a Paenibacillus larvae, de declaração obrigatória na União Europeia. Nos nossos dicionários, não a vejo tão bem definida como gostaria.

 

[Texto 19 974]

Léxico: «ser muita fruta»

Ora esta...

 

      «— Isso é muita fruta. Não podem ser Saxos? Ponho-os a trabalhar com um clipe — informou o Cigano» (O Bairro da Estrela Polar, Francisco Moita Flores. Alfragide: Casa das Letras, 2012, p. 90). Ainda na segunda-feira usei esta expressão — que nenhum dicionário acolhe. Estava eu na quarta volta no circuito de manutenção quando a Vodafone me ligou. «Deixe-me adivinhar: tem aí uma proposta irrecusável para mim.» Mais ou menos: redução do valor em doze euros (!), aumento da velocidade de upload para 400 Mbps e dados ilimitados nos três telemóveis. Vou pensar.

 

[Texto 19 973]

Léxico: «rajastanês»

Entre inúmeros

 

      «Os atentados de domingo contra igrejas ortodoxas e pelo menos uma sinagoga no Daguestão, no Cáucaso russo, fizeram 20 mortos e 46 feridos, segundo um novo balanço divulgado ontem» («Vinte mortos e 46 feridos em novo balanço de ataques no Daguestão», Jornal de Notícias, 25.06.2024, p. 21). Por acaso, o gentílico está nos nossos dicionários. Diz a Porto Editora: «relativo ao Daguestão, república autónoma no sudoeste da Rússia». Mas, se falarmos dos Apaches,  já são o «povo indígena, nómada, que vive no Sudoeste dos Estados Unidos da América». De certeza que se fala mais, desde sempre, por razões históricas, do Rajastão, e, contudo, não vejo rajastanês nos nossos dicionários.

 

[Texto 19 972]

 

P. S.: Porto Editora, não te esqueças de dicionarizar feofícea e clorofícea, ou ainda a rodofícea se fica a rir.