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Linguagista

A infecção alastra

Nem quero saber

 

      «Vale a pena continuar nesta pista: o movimento woke partilha com os velhos (e novos) fascismos uma epistemologia, uma ideia de arte amordaçada, uma política autoritária. Como já salientei aqui e aqui, há demasiados pontos de contato» («A “reparação histórica”: a união entre Órban e o Woke», Henrique Raposo, Expresso Diário, 4.07.2024, 9h34). Se os melhores, os que têm na escrita o seu ganha-pão, escrevem desta maneira, nem quero saber como escrevem os outros, o indocível zé-povinho.

 

[Texto 20 007]

Extras, extras!

Se for preciso, emigramos

 

      «Trabajo descarta ampliar las horas extras o flexibilizar la rebaja de jornada» (Ana Balseiro, La Voz de Galicia, 2.07.2024, p. 27). Mas não, não é necessário, cá também sabem: «Uma dezena de abonos e ajudas extras para altos cargos europeus» («Costa vai ganhar 31 mil euros/mês», Miguel Alexandre Ganhão, Correio da Manhã, 18.06.2024, p. 6). «Horas extras pagas em pacote não agradam a médicos, que já pensam em formas de luta» (Ana Mafalda Inácio, Diário de Notícias, 3.07.2024, p. 12).

 

[Texto 20 006]

Léxico: «cítala | bastão de Licurgo»

Começou assim

 

      «A necessidade de enviar mensagens escritas cifradas que só podem ser lidas pelo destinatário final e não por outros que interceptem as mensagens é, provavelmente, quase tão antiga como a própria escrita. Porém, muitas das tecnologias adoptadas para o efeito perderam-se nas brumas do tempo e o mais antigo mecanismo de cifra que se conhece remonta apenas a 400 anos antes de Cristo (a.C.). Este sistema de cifra, usado em Esparta, utilizava uma cítala, ou bastão de Licurgo, um bastão de espessura variável [ver imagem]. Quando uma tira de couro ou pergaminho com uma mensagem era enrolada em espiral à volta do bastão era fácil de ler, mas apenas por alguém que possuísse um bastão idêntico e conhecesse o procedimento» («O segredo é a alma do negócio», Arlindo Oliveira [professor do IST e presidente do INESC], Público, 1.07.2024, p. 8).

 

[Texto 20 005]

Léxico: «moscardo-fusco»

Desconhecido dos dicionários

 

      «Depois, muitas que “aperfeiçoaram a técnica de simular insectos” e que “inclusivamente libertam feromonas para atrair insectos específicos para fazerem a polinização”, como a Ophrys fusca, também conhecida como moscardo-fusco, ou a Ophrys lutea, a erva-vespa» («Do pastor Leonel às águas do Vascão, o Ameixial descobre-se a caminhar», Mara Gonçalves, «Fugas»/Público, 23.03.2024, p. 7). Que tem outros nomes comuns: moscardo-maior, moscardo-fusco-meia-lua, moscardo-fusco-maior e erva-moscardo.

 

[Texto 20 004]

Léxico: «noselha-comum»

Não tens a comum, o que é comum

 

      «Pelo caminho, vamos ouvindo o martelar de um pica-pau ao longe. Aproxima-se uma borboleta cauda-de-andorinha; avistamos um peneireiro. Nos campos, as flores dos saramagos, planta que “na base tem uma espécie de nabo, um tubérculo comestível”, dentes-de-leão, orquídeas selvagens, ou as pétalas roxas da noselha-comum, que “faz parte da família do açafrão”, aponta João [Ministro, fundador da Proactivetur]» («Do pastor Leonel às águas do Vascão, o Ameixial descobre-se a caminhar», Mara Gonçalves, «Fugas»/Público, 23.03.2024, p. 6).

 

[Texto 20 003]

Definição: «viola da terra»

Agora ainda merece mais realce

 

      As tradicionais violas da terra são agora certificadas com o selo europeu de indicação geográfica (IG). E já há quatro artesãos açorianos reconhecidos. Boa ocasião, esta, para melhorar, enriquecer a definição. Diz a Porto Editora que é a «instrumento semelhante à viola braguesa, mas com boca redonda na Madeira e na ilha da Terceira, e com a boca em forma de dois corações em São Miguel; viola de arame». Talvez fosse útil dizer-se que é um instrumento musical de cordas  pertencente à família das violas de arame portuguesas; que tem a caixa em forma de oito e 12 cordas: três ordens duplas (seis cordas mais agudas organizadas aos pares) e duas ordens triplas (outras seis cordas graves e organizadas em conjunto de três); que também é conhecida como viola de arame ou viola de dois corações, sendo semelhante ao violão, mas de dimensões mais pequenas.

 

[Texto 20 001]

Definição: «oropouche». Léxico: «afirmador»

Ainda melhor

 

      «A febre oropouche pode ser provocada por dois vetores bem conhecidos da população local: o maruim e a muriçoca» («Febre oropouche: sobe para 9 o número de casos confirmados em Pernambuco», Cinthya Leite, Jornal do Commercio, 28.06.2024, p. 21).

      Em maruim/maruí, a Porto Editora ainda diz que é o «nome vulgar de alguns mosquitos das regiões pantanosas do Brasil»; em muriçoca, porém, limita-se a dizer que é um «mosquito». E se neste último ainda se fica a saber que é termo usado no Brasil, naquele nem isso. Também me parece que há todo o interesse em acrescentar esta informação sobre os vectores à definição de oropouche. (Ah, repararam. Sim, este é o texto 20 000. Fica aqui o bolo 🎂. Tchim-tchim, 🥂.)

 

↘↘↘↘↘↘↘↘↘↘↘↘↘↘↘ [Texto 20 000]

 

P. S.: Já o disse nos comentários, mas eu sou afirmador, autor, não comentador, portanto, fica também aqui: a meu ver, a terceira acepção de fórceps devia passar a primeira e a actual primeira desaparecer. É que a terceira cobre toda a variedade e usos dos fórceps, tornando-se redundante a primeira. A segunda continuará a existir por se referir ao tipo de parto em que se usa este instrumento.