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Linguagista

Léxico: «crocodilo-siamês»

Para fazer companhia aos gatos

 

      «Pelo menos 60 crias de crocodilo-siamês [Crocodylus siamensis] nasceram no Parque Nacional Cardamomo, no Camboja, anunciou o governo daquele país. Ao todo, mais de 100 ovos desta espécie do réptil, considerada a mais rara do mundo, foram encontrados em cinco ninhos na área do parque, que é um santuário de preservação de vida selvagem» («Encontrados mais de 100 ovos da espécie mais rara de crocodilos», Diário de Notícias, 20.07.2024, 14h58).

[Texto 20 092]

Léxico: «contra-atirador»

Está muito bem

 

      Vi, e até mais de uma vez, creio que na CNN Portugal, uma reconstituição, com cronologia e imagens, da tentativa de homicídio de Donald Trump. Aos polícias que estavam posicionados em telhados de edifícios em redor do local do comício deram o nome de contra-atiradores. Em vez de qualquer outra designação em língua inglesa, esta é óptima.

 

[Texto 20 091]

Léxico: «shofar»

Pelo menos uma delas

 

      Até podia ser aportuguesado, xofar, mas já é bastante mau que os nossos dicionários não registem sequer o termo shofar (do hebraico שופר), um dos instrumentos de sopro mais antigos. É habitualmente feito de chifre de carneiro e constitui um dos mais poderosos símbolos de judaísmo. O shofar é tocado normalmente em casamentos judaicos e quando um novo rolo da Torá é terminado, além de ser usado em muitos eventos oficiais do Governo israelita, incluindo a posse de um novo presidente. É, por exemplo, tocado para assinalar o fim do jejum de vinte e cinco horas do Yom Kippur (Dia do Perdão), que é um dia de introspecção e exame de consciência.

[Texto 20 090]

Léxico: «warholiano»

Então, uma mais difícil

 

      «“Oh My God! We’re here!” Os salteadores encontraram “um cálice sagrado da história do cinema” (Paul King, produtor e realizador do documentário, dixit), statement que deve ser temperado, evidentemente, com uma saudável, afinal kubrickiana, frieza» («Shine on: o capital mítico de The Shining continua a render», Vasco Câmara, Público, 21.07.2024, p. 21). Oh, kubrickiano já está no dicionário da Porto Editora! Sendo assim, um mais difícil e frequente: «E, como “as bichas na parte elegante do bar” sugeriam, tratava-se da homossexualidade enquanto — para usar uma palavra warholianaglamour» (Sontag, Vida e Obra, Benjamin Moser. Tradução de José Geraldo Couto. Lisboa: Objectiva, 2022, p. 188).

[Texto 20 089]

Léxico: «afro-indígena | pretoguês»

As indocumentadas

 

      «A tradução da edição brasileira, feita por André Capilé, deu soluções criativas ao adaptar as marcas de oralidade do “black english” usado nos contos para a prosódia de um português de influência afroindígena, aquilo que Lélia Gonzalez chamou de “pretuguês”. O resultado é formidável» («Um escritor invisível», Gabriel Trigueiro, Folha de S. Paulo, 21.07.2024, p. C7). Decerto, tanto se vê pretoguês como pretuguês — mas prefiro a primeira grafia. Só é estranho — mas já estamos habituados — é não estarem registados nos dicionários. São palavras clandestinas, indocumentadas.

 

[Texto 20 088]

Olimpíadas e Jogos Olímpicos

Temos o mesmo problema

 

      «Só que as antigas lições estão dando lugar a maneiras como elas, incorretamente, são mais conhecidas nos sites de buscas. E como “Olimpíadas” é mais buscada que “Olimpíada”, alguns dos mais importantes órgãos de imprensa resolveram adotar essa grosseria e, não por acaso, as tantas “Olimpíadas de Paris”, escritas aos montes até em jornais muito sérios, que resolveram entrar no jogo e errar de propósito. Oportunismo barato e inconsequente, essa de querer fazer o errado virar o novo certo» («Olimpíada versus Olimpíadas: a tentativa de fazer o errado virar certo por causa dos sites de buscas», Flávio Ricco, Jornal do Commercio, 8.0.2024, p. 28). É isso mesmo, não se erra sempre, e Flávio Ricco desta vez tem razão. A Porto Editora cai no mesmo erro: «DESPORTO plural competição desportiva que, desde 1896 (com excepção de períodos durante as duas guerras mundiais) acontece geralmente de quatro em quatro anos, reunindo atletas de diferentes países e modalidades num lugar previamente determinado; jogos olímpicos modernos». Que sentido faz isto? Era, reparem bem, como se, ao dicionarizar Jornada Mundial da Juventude, também assinalassem Jornadas Mundiais da Juventude. Nada disso. Basta assim: «DESPORTO competição desportiva que, desde 1896 (com excepção de períodos durante as duas guerras mundiais) acontece geralmente de quatro em quatro anos, reunindo atletas de diferentes países e modalidades num lugar previamente determinado; jogos olímpicos modernos». Erro este, diga-se, que também se vê na nossa imprensa: «Papa espera que trégua para as guerras venha das Olimpíadas de Paris» (Rádio Renascença, 21.07.2024, 12h07).

 

[Texto 20 087]

Léxico: «inquérito-crime | taxa-crime»

Qual o critério?

 

      «Processo EDP: arquivada queixa-crime contra procurador, decisão diz que pode ter havido “falsidades” mas não “falsificações”» (Luís Garriapa, SIC Notícias, 11.07.2024, 18h19). É o ponto de partida. Explica-me então, Porto Editora, a razão para grafares — e, assim, recomendares — as grafias queixa-crime e processo-crime, mas, ao mesmo tempo, inquérito crime e taxa crime. Em que diferem, podes dizer-nos? Já vem do Direito: trata-se de forma igual o que é igual. Como sou alérgico à incoerência, isto deixa-me sempre doente.

[Texto 20 086]