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Linguagista

Léxico: «cimbalária»

Perdido nos bilingues

 

      «Quando víamos uma flor, falávamos dela e eu tirava fotografias. Era como se eu tivesse muitos amigos novos. As flores têm nomes científicos e muitas têm nomes vernáculos, como se tivessem uma personalidade diferente. Algumas têm nomes estranhos. [Risos]. Uma chama-se “ruína-de-roma” [Cymbalaria muralis, também conhecida por “cimbalária”]. É muito pequena e trepa pelas pedras dos muros [diz Patricia Aubertin]» («O herbário de Hubert Reeves: “Algumas pequenas flores silvestres têm uma grande história”», Teresa Firmino, Público, 14.06.2024, p. 27).

[Texto 20 110]

Léxico: «validismo»

Nem o de sempre

 

      «Lembro-me dos debates sobre o facto de dever renunciar às suas funções e do quanto me parecia penoso obrigar um homem, que parecia precisar sobretudo de descanso, a prosseguir a representação do seu papel, e lembro-me do que se apresentava como uma das justificações para continuar a fazê-lo, a ideia do sacrifício. Fui sensível ao argumento da “ditadura” da juventude, da eficácia e da influência do idadismo e validismo e a minha visão mudou de certa forma» («Vai chamar velho a outro!», Luísa Semedo, Público, 25.07.2024, p. 6). Se os nossos dicionários nem sequer registam o validismo de sempre, a concessão de benefícios por mero interesse, e não por mérito da pessoa que o recebe, quanto mais este nupérrimo validismo, a discriminação e preconceito que as pessoas com deficiência enfrentam no seu dia-a-dia.

[Texto 20 109]

Léxico: «macronismo | macronista»

É neles que penso

 

      «Depois do cargo de presidente da Assembleia Nacional – a reeleição de Yaël Braun-Pivet – na quinta-feira, prosseguiram as votações entre os 577 deputados para os restantes cargos da Câmara Baixa francesa, tendo o macronismo obtido a maioria das presidências das comissões e a esquerda das vice-presidências e do secretariado. [...] No sábado, o campo de Macron elegeu seis em oito presidências de comissões, tendo apenas perdido a Comissão das Finanças para o reeleito Éric Coquerel (LFI) e o de relator do Orçamento para o centrista (fora do grupo macronista) Charles de Courson» («Le Pen indignada com derrota na Assembleia», C. A., Diário de Notícias, 21.07.2024, p. 21).

      Pode afirmar-se que são dos tais termos que não merecem ascender ao olimpo dos dicionários, mas não tenho a certeza disso. Seja qual for a importância histórica de Macron (inferior à de António Costa?), ponho-me na pele do falante de 2100 que tropeça nos termos macronismo e macronista e concluo que temos de fazer alguma coisa.

 

[Texto 20 108]

«Pessoas que menstruam»...

Se é mau, chega sempre

 

      Claro que esta estupidez tinha de chegar cá. Chega cá tudo, é só esperarmos: «O grupo parlamentar do PSD pretende que a ministra da Saúde esclareça se autorizou a campanha da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a menstruação que utiliza a expressão “pessoas que menstruam” em vez de “mulheres”» («“Pessoas que menstruam”. Bancada do PSD pede esclarecimentos ao Governo sobre campanha da DGS», Rádio Renascença, 24.07.2024, 23h05). Qual é a pessoa minimamente inteligente que escreve semelhante barbaridade?

[Texto 20 107]

Léxico: «giroflex»

Fuzilou, pagou

 

      «O ex-deputado foi intimado pela Justiça a bancar o valor do conserto, após a PF encaminhar um laudo pericial que aponta 42 disparos de Jefferson no veículo: 25 no teto, 14 no para-brisa, dois na lateral e um no capô. Foi necessário, ainda, trocar as luzes (giroflex), o forro do teto e do para-brisa, além de fazer nova pintura e lanternagem e reparar ar-condicionado e motor» («Roberto Jefferson paga conserto de R$ 39,5 mil em viatura que fuzilou», Aguirre Talento e Mateus Coutinho, Folha de S. Paulo, 24.07.2024, p. A6).

[Texto 20 106]

Léxico: «electrodependente | electrodependência»

Sempre ligados

 

      «Aline Bertolozzi e Rodrigo Monteiro, 42, são pais de Leonardo, 9, uma criança eletrodependente, ou seja, que precisa estar conectado 24 horas por dia a aparelhos ligados à energia elétrica, o que o deixava restrito ao hospital ou ao home care» («Pais criam mochila para criança dependente de energia elétrica 24 horas conseguir sair de casa», Havolene Valinhos, Folha de S. Paulo, 24.07.2024, p. B10).

[Texto 20 105]

Léxico: «danos colaterais»

Não é nada raro

 

      Por vezes, tropeçamos em boas definições. Há uma instalação no Museu de Lamas, em Santa Maria de Lamas, precisamente com o nome Danos Colaterais, sobre a guerra no Médio Oriente. Definição da repórter Ana Felício, no Portugal em Directo, da RTP1: «Dano colateral classifica qualquer dano causado a pessoas ou objectos diferentes do alvo pretendido. Em meio militar e em cenário de guerra, é um termo utilizado para definir a destruição de alvos civis ou a morte acidental de não-combatentes.» Melhor, mais completa, convenhamos, do que as definições que encontramos nos dicionários.

[Texto 20 104]