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Linguagista

Léxico: «biqueirão | coluna de água | antitrombótico»

Mais um, para terminar

 

      «O que é o biqueirão? Os espanhóis chamam “boquerón” e os ingleses “european anchovy” — é um pequeno peixe pelágico, que vive na coluna de água (nem muito no fundo, nem demasiado à superfície), ao sabor das correntes, em grandes cardumes. Tem o focinho pontiagudo, o corpo mais esguio do que a sardinha e é normalmente mais pequeno (10 a 15 centímetros). É um peixe de crescimento rápido e vida curta, que raramente ultrapassa os três anos. [...] Faz bem à saúde? É um peixe com alto teor de ácidos gordos, que têm propriedades antitrombóticas e anti-inflamatórias, ajustando o metabolismo do cálcio, melhorando as funções dos sistemas nervoso e imunológico e contribuindo para a redução do “mau” colesterol (LDL)» («Biqueirão, o peixe que é novo “ouro” dos pescadores do Norte», Ana Trocado Marques, Jornal de Notícias, 29.07.2024, p. 21). Nem nos dicionários se fica a saber tanto sobre o biqueirão.

[Texto 20 128]

Léxico: «bolivarianismo | bolivarianista»

Não nos queixemos

 

      «Como previsto, Nicolás Maduro e seus lugares-tenentes não largaram o osso. Alegam ter vencido o pleito presidencial com 51,2% dos votos, mas os sinais de fraude são volumosos. O que acontece agora?» («Maduro não largou o osso», Hélio Schwartsman, Folha de S. Paulo, 30.07.2024, p. A2).

      Hélio Schwartsman certamente já descobriu o Linguagista, e ontem já era «não largar o osso». Pois, pois... Em compensação, deu-nos isto: «No cenário que me parece mais provável, a oposição ensaia protestos que serão reprimidos. Por ter transformado os militares em sócios dos esquemas de extração de rendas estatais, Maduro conta com sua lealdade. Com o tempo, manifestações arrefecem, lideranças oposicionistas podem ser presas, e o bolivarianismo sobrevive operando num patamar ainda mais elevado de autoritarismo.»

[Texto 20 127]

Plural: «sem-abrigo»

E isto todos os dias

 

      Madalena Sales, pivô do noticiário da manhã no canal Now às 9h26 de ontem: «ANA tira sem-abrigos do Aeroporto Sá Carneiro.» Disse e aparecia escrito em rodapé, e isto de forma repetida. Quantas vezes não ouvi já, na rádio e na televisão, isto? E repare-se que são jornalistas, comunicadores, comentadores, não o zé-povinho. Só tenho pena já cá não estar quando for norma a pluralização do termo e se reputar erro a sua invariabilidade.

[Texto 20 126]

Léxico: «sondador multifeixe»

Agora juntinhos

 

      «O navio hidrográfico da Marinha Carlos I está a realizar levantamentos hidrográficos na área do banco do Gorringe, situado no oceano Atlântico. “Ao longo de 130 horas de sondagem, o navio usou os modernos sistemas de sondadores multifeixe para efetuar o levantamento de uma área de 2200 km2, recolhendo os dados batimétricos que oferecem pela primeira vez um modelo completo e contínuo do banco do Gorringe”, informou a Marinha» («Marinha faz cobertura batimétrica completa do banco de Gorringe», Jornal de Notícias, 28.07.2024, p. 29, itálicos meus).

      Está bem, tens sondador e multifeixe, Porto Editora, e este último por sugestão minha em 2018, mas não tens sondador multifeixe, definição que se encontra aqui.

 

[Texto 20 125]

Léxico: «pirosada»

Não o tens?!

 

      «Apesar de afirmar com brio que era “a primeira fadista na Billboard” dizia que a incomodava “essa pirosada de ser renovadora do fado, nunca a percebi, mas a verdade é que resultou assim”» («Morreu a primeira fadista na Billboard, a sempiterna Mísia», Catarina Ferreira, Jornal de Notícias, 28.07.2024, p. 36). Li excelentes obituários de Mísia, e este do Jornal de Notícias é dos melhores. Como também os li na imprensa espanhola, no El País e no El Mundo. Agora, que não estivesse na Infopédia é que eu esperava. Enfim, não basta ter talento, é preciso ter muita sorte.

[Texto 20 124]

Léxico: «submentoniano»

Precisamos disto

 

      «A gordura submentoniana, conhecida popularmente como papada, é um incômodo para muita gente que passa por grande perda de peso ou possui uma estrutura favorável ao acúmulo de gordura e flacidez na região. A boa notícia é que ela pode ter jeito e nem sempre é preciso apelar para cirurgia» («Procedimentos médicos pouco invasivos ajudam a diminuir a papada», Danielle Castro, Folha de S. Paulo, 28.07.2024, p. B7).

 

[Texto 20 123]

Léxico: «eucalipto-comum | eucalipto-azul | eucalipto-da-tasmânia»

Há muitos

 

      «Quando falamos de eucalipto, falamos da variedade Eucalyptus globulus, que é dominante em Portugal» («O eucaliptal português: um diagnóstico de má gestão e abandono», Rita Cruz, Público, 28.07.2024, p. 23). Sim, e só hoje soube que o eucalipto-comum tem pelo menos mais dois nomes comuns, eucalipto-da-tasmânia e eucalipto-azul, e isto porque as folhas, enquanto as árvores são novas, apresentam uma cor azulada.

 

[Texto 20 122]

Léxico: «cão não come cão»

Pelo menos era assim

 

      «Este dicho se usa al menos desde la antigua Roma. Lo emplea Marco Terencio Varrón en De lingua latina: Canis caninam non est (el perro no come carne de perro). Su origen puede estar en la observación de animales carnívoros que no comen carne de ejemplares de su especie» («Perro no come perro», Francisco Ríos, La Voz de Galicia, 27.07.2024, p. 16).

      Como lembra Francisco Ríos, é comummente usada para denunciar casos de corporativismo, amiguismo: nunca veremos um médico dizer mal de outro médico, um juiz dizer mal de outro juiz, e por aí fora. Os poucos que se atrevem a quebrar este pacto tácito não deixarão de sofrer represálias. O mundo é assim desde sempre. Por qualquer motivo que eu não quereria jamais aprofundar, só vamos encontrar o adágio cão não come cão num dicionário bilingue da Porto Editora. Em inglês, Dog does not eat dog; em francês, Un chien ne mange pas un autre chien; em alemão, Ein Hund beißt keinen anderen HundIsso mesmo, no Tróilo e Créssida, de Shakespeare, Térsites está envolvido numa discussão com Ájax e usa o provérbio “One dog will not eat another dog” para destacar a ideia de que indivíduos do mesmo tipo não devem prejudicar-se mutuamente.

[Texto 20 121]