Linguagista

Pelo menos!

      «Para ilustrar este nível de preços, o PÚBLICO pediu algumas referências à AORP: uma aliança de casamento vulgar poderá ter em média entre 2,5 e 3 gramas de ouro, um fio vulgar (sem ser de produção manual), com um comprimento de 40 cm, terá à volta de 10 a 12 gramas de ouro» («No Norte “ainda existe maior quantidade de ouro na posse das famílias”», Ana Brito, Público, 1.09.2024, p. 21). Confesso que não tinha bem a noção de que uma aliança de casamento pesava tão pouco. (Ou será a minha que pesa toneladas, e por isso não a uso?) E não pensem que se trata de ouro puro (24 quilates), porque isso seria impossível, pois o ouro puro é muito macio, muito dúctil. Usa-se habitualmente, para estas peças, ouro de 18 quilates (75 % de ouro), que é uma liga de ouro, cobre e prata. Deveriam os dicionários acrescentar, em aliança, alguns destes pormenores, e nomeadamente o peso? Talvez. Mas podiam — deviam! — registar ouro branco (geralmente ouro de 18 quilates misturado com metais como níquel e paládio) e ouro rosa (liga de ouro que contém uma pequena quantidade de prata e cobre, que lhe confere a cor rosada).

[Texto 20 191]

P. S.: A propósito (mais ou menos...) de alianças, hoje é Dia do Sexo. Sabiam? Então, 6 de Setembro, 6/9. Também há o 69 möebius, mas é mais difícil por causa do trema... (E sabem que 69 não está nos dicionários? Pois, é sessenta-e-nove que lá encontramos (estou a ver agora no da Porto Editora), e lá se vai toda a sugestão gráfica dos algarismos. Tinham de o indicar também no verbete.)

Pluraliza-te

      Ah, Porto Editora, e o nome feminino plural variedades, a miscelânea de diversos números que são exibidos em teatros e outros lugares semelhantes?

[Texto 20 190]

Avancemos sem mais detença

      «“O estudo deste exemplar permitiu-nos identificar pela primeira vez a presença de duas linhagens distintas de saltassauroides na mesma localidade fóssil. Um destes grupos, denominado Lirainosaurinae, é relativamente conhecido na região ibérica e caracteriza-se por espécies de pequeno e médio porte, que evoluíram num ecossistema insular. Ou seja, a Europa era um enorme arquipélago composto por várias ilhas durante o Cretáceo Superior. No entanto, Qunkasaura pertence a um outro grupo de saurópodes, representado na Península Ibérica por espécies de médio-grande porte há 73 milhões de anos. Isto sugere-nos que esta linhagem chegou à Península Ibérica muito mais tarde do que outros grupos de dinossauros”, explica o investigador [Pedro Mocho, paleontólogo do Instituto Dom Luiz da FCUL]» («Descoberto novo dinossauro na Península Ibérica», Olímpia Mairos, Rádio Renascença, 4.09.2024, 10h29, itálicos meus). É só um saltinho, Porto Editora, porque saltassauro já tu registas.

[Texto 20 189]

Apagado da fotografia

      O leitor R. A. pôs-se a contar quantos mundos há no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: Primeiro Mundo, Terceiro Mundo, Quarto Mundo. Voltou a contar, não fosse ter-se enganado. Primeiro Mundo, Terceiro Mundo, Quarto Mundo. Ora esta, e então o Segundo Mundo? Claro que existe — ou existiu, pelo menos de acordo com a teoria dos mundos. Não vamos agora, só porque diz respeito ao antigo Bloco de Leste, usar a técnica estalinista de o expungir da fotografia.

[Texto 20 188]

E não apenas «interbancário»

      «Os prazos das transferências variam consoante o tipo e o destino da operação. Em transferências intrabancárias – ou seja, entre contas do mesmo banco – o dinheiro é geralmente disponibilizado no mesmo dia. Esta rapidez, embora conveniente, torna mais difícil o cancelamento. Por outro lado, nas transferências interbancárias, que envolvem contas de bancos diferentes, o montante pode demorar até um dia útil a ser creditado, oferecendo uma pequena janela para a anulação» («Sabia que pode cancelar uma transferência bancária? Veja como o fazer», Postal do Algarve, 30.08.2024, 18h02).

[Texto 20 187]

P. S.: Faltam, pois. Não acredito que rejeitem o neoplatonizante, por exemplo.