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Linguagista

Léxico: «pára-rodas | valor-base»

Uma nova

 

      «A APDL [Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo] esclareceu que o valor-base de 4,5 milhões de euros respeitantes à intervenção se mantém, porque se procedeu “à alteração de alguns trabalhos não essenciais ao objetivo a atingir”. Nomeadamente, “foi decidido apenas otimizar o esquema de pintura no interior da ponte que está menos exposto às condições climatéricas e proceder à recuperação do pára-rodas da via de circulação, em vez da sua substituição integral”» («Obra na ponte móvel avança no segundo trimestre do próximo ano», Jornal de Notícias, 13.09.2024, p. 8).

[Texto 20 230]

Sobre «terramoto»

Os da terra

 

      «Faz pouco, houve mais um terremoto (os da terra dizem terramoto) na região de Sines, em Portugal com 5.3 graus na Escala Richter, às 05:11hs, sentido sobretudo nas regiões de Setubal e Lisboa. Sem vítimas ou maiores consequências, ainda bem. Voltemos ao passado» («Sobre Portugal, o Brasil e os terremotos», José Paulo Cavalcanti Filho, Jornal do Commercio, 13.09.2024, p. 31).

      Como dizem os da terra... Soubemos ensinar-vos bem, mas depois optámos por dizer «mal». Na verdade, José Paulo Cavalcanti Filho, é menos por ignorarmos a língua portuguesa do que por desconhecermos a latina que dizemos terramoto. Até determinada altura, sempre e só se disse «terremoto» em Portugal. Contudo, no século XVIII já os gramáticos advertiam nas suas obras que se devia dizer «terremoto» e não «terramoto» — prova inequívoca de que já se ia usando esta última. E pronto, o resto já conhecem… com o rolar dos tempos, impôs-se esta variante, que eu nem ameaçado com uma pistola concordaria ou afirmaria que é incorrecta. Esta variante, assim a reputo, formou-se dentro da língua, é uma forma legítima e, ao que me parece, cunhada por analogia, já que, designando um tremor de terra, natural é que se desse essa dissimilação. Popular, corruptela, é a forma «tarramoto». (E agora gostava que o nosso cronista-advogado atentasse na trapalhada que escreveu: «5.3 graus na Escala Richter, às 05:11hs». Despiorando, seria assim: «5,3 graus na escala de Richter, às 5h11». Não tem de quê. E saiba, como bónus, que se escreve «Setúbal». É bem verdade que na rádio e na televisão portuguesas, habitualmente, vá-se lá saber porquê, é mal pronunciada por muitos jornalistas, mas nunca mal escrita.)

[Texto 20 229]

Léxico: «cânula | chalota»

Nem estas

 

      «Quase da cor do avental azul forte, os olhos de Celeste vibram ao falar do trabalho a que se dedica desde 2001, quando deixou de ser escriturária para se tornar na “única mulher portuguesa a construir e restaurar tubos de palheta”. Senta-se diante do robusto torno para “fazer as cânulas para as palhetas”. É “tudo manual”, orgulham-se os fundadores da JMS Organaria, criada em 2015, em Famalicão, e desde há dois anos instalada em Santo Tirso» («Celeste e Joaquim dão vida à alma dos órgãos de tubos», Ana Correia Costa, Jornal de Notícias, 14.09.2024, p. 8).

      Não é somente esta acepção de cânula, que eu próprio não conhecia, que te falta no dicionário, Porto Editora: é esta e mais três, o que não é pouco. A lingueta ou palheta metálica vibra contra um corpo também metálico chamado chalota ou cânula (que a legião de anglófonos que nos segue rejubilará ao ficar a saber que em inglês se diz shallot).

[Texto 20 228]

Léxico: «alma»

Não esta

 

      «“Os tubos têm alma, e é aqui que preparo as almas”, mostra Joaquim, inclinado sobre uma mesa da oficina, enquanto dá forma à peça metálica que há de funcionar como o bisel do tubo que acabara de moldar. Longe de ser retórica, os órgãos têm mesmo alma, designação de uma componente que define a passagem do ar pelos tubos e que lhes separa o pé do corpo» («Celeste e Joaquim dão vida à alma dos órgãos de tubos», Ana Correia Costa, Jornal de Notícias, 14.09.2024, p. 8).

       Não que os nossos dicionários o digam. Não a encontro entre as vinte e seis acepções de alma no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora. Está lá uma respeitante à música, sim, mas não é a mesma: «peça de madeira colocada entre os dois tampos de um violino ou de outros instrumentos de corda, que ajuda a suportar a pressão das cordas no cavalete e a transmitir as vibrações acústicas a todo o instrumento».

[Texto 20 227]

Léxico: «doença de Scheuermann»

Cada um à sua medida

 

      «Com 16 anos e vários problemas de saúde – entre eles uma malformação do cerebelo e a doença de Scheuermann, que causa deformações severas na coluna –, Soraia Aguiar precisa de ajuda para conseguir fazer tratamentos que custam mil euros por semana» («Encontro de carros e motos clássicos para ajudar Soraia», Jornal de Notícias, 14.09.2024, p. 8). E quem puder — e quase todos podemos, cada qual dentro dos seus limites —, ajude: «Os interessados em ajudar também podem contribuir com donativos para a conta solidária com o NIB 00070000005410 6144223.»

[Texto 20 226]