Léxico: «varíola-dos-macacos | ortopoxvírus»
Perceberam mal
«O monkeypox (mpox) já infetou 38.300 pessoas, das quais 7.339 são casos confirmados, e matou 979 desde o início do ano em 16 países, anunciou a agência de saúde pública da União Africana (UA). [...] De acordo com a OMS, o mpox é uma doença infeciosa que pode causar uma erupção cutânea dolorosa, gânglios linfáticos inchados, febre, dores de cabeça, dores musculares, dores nas costas e falta de energia» («Mpox já infetou mais de 38 mil pessoas só este ano», Rádio Renascença, 10.10.2024, 19h23).
Tirando a falta de energia, tudo o resto está contido na definição de varíola-dos-macacos no dicionário da Porto Editora. Tudo quanto a sintomas, esclareça-se. Não diz explicitamente que se trata de uma zoonose nem que é causada por um ortopoxvírus, termo que o dicionário nem sequer acolhe. Lá está, pox... Como acontece tantas vezes, os jornalistas perceberam mal: o que a Organização Mundial da Saúde pretendeu foi ver banida a designação monkeypox — a nossa, e que não devíamos abandonar, varíola-dos-macacos —, substituindo-a por mpox. Durante um ano, na transição, que já acabou, podiam usar-se ambas as designações, para evitar equívocos. Enfim, nestes tempos aparvalhados que muito me desgostam, não querem ofender os macacos, e escondem-nos no m. Mas isso, senhores jornalistas, não nos diz respeito, nós falamos português. Vão lá ao Centro de Saúde de Alfândega da Fé, ou mesmo de Sete Rios, e perguntem às pessoas — aos utentes — se sabem o que é a monkeypox, ou qualquer outra pox. Pois. Claro que a OMS, numa atitude anglocêntrica inerente a todas as organizações internacionais, se esticou e veio declarar que a designação mpox pode ser usada em qualquer língua. E pode — mas não deve.
[Texto 20 360]