Linguagista

Outra desaparecida

      «Os principais recursos minerais que se conhecem nos fundos marinhos concentram-se em nódulos polimetálicos (ou nódulos de manganésio), que se vão acumulando ao longo de muitos milhões de anos. em crostas de ferromanganésio (formadas através da precipitação de substratos em suspensão) e nas chamadas fontes hidrotermais» («Mineração em mar profundo: para quê destruir os fundos oceânicos?», Luís Fazendeiro, Le Monde Diplomatique, Junho de 2022). Claro que existe, e existe igualmente noutras línguas, mas não o vamos encontrar em nenhum dos nossos dicionários.

[Texto 20 383]

Perdemos nós

      «“A castanha de cedo, como é de maior dimensão, escoa-se rapidamente porque ainda há pouca no mercado”, revela Fortunato, que para já está a vender a 2,5 euros/quilo, mas prevê que daqui a poucas semanas, com a queda da tradicional, o preço caia. “O preço da castanha tem vindo a baixar nos últimos anos por causa do fungo da podridão e porque os ajuntadores combinam o valor a praticar”, lamenta Fortunato, que se dedica de alma e coração aos soutos, o que lhe tem permitido manter a produção estável» («“Quando ela cai as pessoas ainda vão aos soutos”», Glória Lopes, Jornal de Notícias, 14.10.2024, p. 11). Pois, não basta dizer que ajuntador é que ou o que ajunta. No caso, ajuntadores são as pessoas que vão às aldeias recolher as produções pelo menor preço possível, pois claro, para depois as venderem às fábricas. Assim, saem do produtor à volta de 1,50 euros, até menos, e, depois da intervenção dos ajuntadores e das fábricas, os supermercados fazem o favor de no-las venderem a 5 euros.

[Texto 20 382]

Isso é que era

      «Desde então, Joaquim Ferreira diz que as tentativas de reflorestação daquela zona não têm resultado. “Estão a plantar pinheiros, mas, nesta areia, a maioria seca e morre”, justifica. “As árvores plantadas não são como as nascidas das sementes dos pinheiros. Deviam ter semeado as matas com penisco [pinhões], para ganharem raízes”, explica. “Os que mandam não percebem nada disto, e as firmas privadas que aqui andam a trabalhar é que ficam a ganhar”» («Fogos no Pinhal de Leiria “despiram” populações», Alexandra Barata, Jornal de Notícias, 15.10.2024, p. 12).

      Se queres saber, há vários problemas com a definição de penisco: por um lado, falta o hífen em «pinheiro-bravo». Eu não deixaria de indicar o nome científico também: pinheiro-bravo (Pinus pinaster). Por outro lado, o penisco não é uma semente qualquer: é uma semente alada, e temos de o dizer. Mas não só: devia indicar-se que a semente alada tem cerca de 7-8 mm, e com asa até 30 mm; que é libertado, o penisco, das pinhas a partir da Primavera/Verão. As pinhas amadurecem no final do Verão seguinte e, nos pinheiros-bravos novos, a queda do penisco dá-se na Primavera ou Verão do terceiro ano.

[Texto 20 381]

Só sanguíneo ou de guerra

      Nos nossos dicionários, nem em sentido próprio nem em sentido figurado: «Datafolha mostrou que o eleitorado de Marçal fez uma migração em massa para Nunes. Ainda que o ex-coach seja um político com baixa solidez ideológica, seus apoiadores encontraram vasos comunicantes naturais entre as duas candidaturas que disputavam votos pela direita» («Os vasos comunicantes da eleição de São Paulo», Bruno Boghossian, Folha de S. Paulo, 10.10.2024, p. A3).

[Texto 20 380]

Só para não se esquecerem

      «“Se o investimento futuro do Governo continuar a ser direccionado para o recrutamento de professoras/es reformadas/os e de profissionais sem preparação para a docência; para o aumento do limite de horas extras (dez horas semanais), o que desgasta ainda mais a classe, não passando por soluções estruturais, de fundo, como o aumento do número de vagas nos mestrados de ensino (que temos vindo a discutir), é indiscutível que o problema não apenas continuará como continuará a agravar-se”, escrevem na missiva enviada» («Mestrandos escrevem ao ministro: sem mais vagas, falta de docentes vai agravar-se», Cristiana Faria Moreira, Público, 5.10.2024, p. 18). «Inquérito da FNE mostra que recurso a horas extras está a ser muito utilizado pelas escolas para fazer face à falta de docentes» («Idade não poupa professores à prestação de horas extraordinárias», Clara Viana, Público, 15.10.2024, p. 14).

[Texto 20 379]

O verbo já tu o tens

      «Em setembro de 2014, na evocação do centenário do início da I Guerra Mundial, o Papa Francisco classificou todo o ato bélico como uma “loucura” que estipula “a destruição como plano de desenvolvimento”, no fundo provinda de uma atitude de “dessolidarização” com o outro, como na ação egoísta de Caim (“A mim, que me importa o meu irmão?”). A sombra de Caim estendia-se, assim, “sobre nós”; ela via-se “na história que vem desde 1914 até aos nossos dias”; e via-se – vê-se – “também nos nossos dias”. Por isso, e para Francisco, talvez se pudesse falar “de uma terceira guerra mundial combatida por pedaços, com crimes, massacres, destruições”» («​Os “pedaços” da terceira guerra mundial», José Miguel Sardica, Rádio Renascença, 16.10.2024).

[Texto 20 378]