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Linguagista

E se for uma vila? E um castelo?

Mais problemas

 

      «Festival de Paredes de Coura. “São só quatro dias, o resto do ano é uma vila-fantasma”» (Lara Castro, Rádio Renascença, 14.08.2024, 3h00). Todos os dicionários acolhem cidade-fantasma; tanto quanto vi, nenhum regista vila-fantasma. Ah, e se for um castelo? «O nosso jovem fotógrafo ter-se-ia desviado, como o soldado do conto de Ramuz quando ia voltar à aldeia. Em vez disso, foi à Feira e entrou no castelo-fantasma. Achou estranho. Parecia estar no Vaticano» (Pequeno Livro Arquivo, Luís Miguel Cintra. Coimbra: Edições 70, 2023, p. 123).

[Texto 20 417]

Léxico: «desembaraçante | desembaraçador»

Champô já nós temos

 

      A trunfa dela era tal, que precisava de champô desembaraçante de três em três dias. Agora, porém, temos um grande problema: pelo menos em Portugal, é mais fácil encontrar champô desembaraçante — e até com o rótulo a dizer isto precisamente — do que topar com a palavra nos dicionários. Se pensarem que é mais fácil se optarmos por desembaraçador, estão enganados. Lá teremos de ficar com a trunfa desalinhada e a fronha enrugada de incredulidade.

[Texto 20 416]

Tratar mal as pessoas e a língua

Isto vai aprender

 

      «Não sei se reparou nas notícias: alegadamente, Rui Rangel terá tratado mal um chefe do Exército e ainda ao Chefe do Estado-Maior da Força Aérea portuguesa na receção aos repatriados do Líbano. O Vítor Matos cita a CNN que diz que o MNE terá dito coisas como “burros” e “camelos”, palavras dirigidas aos homens fardados. O PS e o Chega querem agora que Rangel se explique no Parlamento» («Air Force One», Pedro Candeias, Expresso Diário, 23.10.2024).

      Paulo Rangel anda a tratar mal as pessoas, o que nunca esperei. Como se não bastasse não saber que não se diz — mas tem muitos jornalistas que lhe fazem companhia — «no Chipre», mas «em Chipre», agora desata-me a chamar burros e camelos aos outros. Mau, mau...

[Texto 20 415]

Léxico: «saxaul»

Como no mar de Aral

 

      Agora apareceu-me aqui numa tradução uma referência ao saxaul (Haloxylon ammodendron), uma árvore que tradicionalmente era usada no deserto para recuperar a memória, e que retém o sal nas folhas para melhorar a absorção de água e assim sobreviver no deserto de Gobi.

[Texto 20 414]

 

Léxico: «cegueira dos rios | oncocercose»

A propósito

 

      Mia Couto esteve na segunda-feira no Jornal 2, na RTP2, para falar da sua última obra, Cegueira dos Rios. Ora, cegueira dos rios é o nome de uma doença parasitária crónica (no Brasil também chamada mal do garimpeiro), decorrente da infecção produzida pelo nematódeo Onchocerca volvulus, que se instala no tecido subcutâneo das pessoas atingidas. É mais conhecida por oncocercose, mas nenhuma das designações está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

[Texto 20 413]

Léxico: «Estado oscilante»

Outras opções

 

      É verdade: há quase sempre outra forma de dizer as coisas: «Estados oscilantes da América. A duas semanas das eleições presidenciais nos Estados Unidos há menos de dois pontos percentuais a separar a candidata democrata do candidato republicano. As sondagens mostram que a vice-presidente democrata reúne cerca de 49% das intenções de voto, enquanto o ex-chefe de Estado republicano consegue 47%. Com uma disputa tão renhida, a vitória vai definir-se naqueles que são conhecidos como os sete Estados oscilantes: Arizona, Carolina do Norte, Geórgia, Michigan, Nevada, Pensilvânia e Wisconsin» («Quando ‘o não assunto’ de que todos falam (Cidadania) quase eclipsou ‘o assunto’ (Orçamento do Estado)», Vítor Andrade, Expresso Curto, 22.10.2024).

      Já aqui vimos mais de uma vez que a imprensa brasileira — e em especial a Folha de S. Paulo, o melhor jornal em língua portuguesa de todo o mundo, espero que tenham anotado e passado a palavra — adoptou outra forma de se referir aos swing states: Estados-pêndulo.

 

[Texto 20 412]

Léxico: «(não) fazer parte da equação»

Também nisto nos distinguimos

 

      Os detectives queriam saber onde estava o ex-marido da mulher da vítima. Sim, é da série policial O Detective de Chelsea, que está a passar na RTP2. «E o pai do Luca? David Westbury?... Ainda faz parte da equação?» («And what about Luca’s father? David Westbury?... Is he still on the scene?») Este scene está nos dicionários de língua inglesa, mas o nosso (não) fazer parte da equação, de uso frequente, não se encontra em nenhum dos nossos dicionários.

[Texto 20 411]