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Linguagista

Léxico: «princípio de Barlow»

Na ordem do dia

 

      «O princípio de Barlow, de não haver tutela e filtros apriorísticos, ainda deveria valer. E que cada um se responsabilize pelo que publicou. Entretanto, o demônio, sempre atento, ouviu Barlow e se aproveitou de um escorregão no título. Ao denominar o espaço de interlocução e de comunicação de “ciberespaço”, foi usada a raiz grega “ciber”, que significa controle, governança. Ou seja, sem notar Barlow conjurara os espíritos maliciosos para que pudessem transformar a internet inicial numa “rede de controle”. A semântica buscou (e conseguiu!) sua vingança» («Presságio semântico», Demi Getschko, O Estado de S. Paulo, 27.08.2024, p. B20).

      O princípio de Barlow, associado a John Perry Barlow (1947-2018), defende que a internet deve ser um espaço livre de regulação governamental ou empresarial, onde não haja censura ou filtros prévios, permitindo que cada indivíduo seja responsável pelo conteúdo que publica e pelas suas acções no ciberespaço. Este princípio advoga a preservação da liberdade de expressão na internet, sem interferências ou tutela externa, com a convicção de que a rede deve funcionar como uma plataforma aberta e democrática, garantindo a autonomia dos utilizadores. 

[Texto 20 423]

Léxico: «contramina | hidroponto»

É óbvio que não

 

      «Dando continuidade aos trabalhos de identificação, estudo e valorização do património calipolense, uma equipa da Câmara Municipal deslocou-se esta segunda-feira à Quinta das Velhas, com o intuito de proceder a uma avaliação mais detalhada de um complexo conjunto de galerias subterrâneas, com cerca de 2,5 km, concebidas na primeira metade do século XIX, que tinha como objetivo a condução e gestão de águas, desde a nascente até diferentes hidropontos. [...] Neste caso concreto e de acordo com a bibliografia consultada, a construção das contraminas da Quinta das Velhas, com a nascente a oeste no Vale das Pegas, originou um litígio entre diferentes proprietários, devido à gestão partilhada das águas subterrâneas e teve como consequência o desaparecimento de documentação municipal, nomeadamente algumas atas da Câmara, no período compreendido entre 1824 e 1837» («Descoberta rede de contraminas da Quinta das Velhas! “Vila Viçosa surpreende a cada dia que passa”, diz Tiago Salgueiro», Ana Rocha, Rádio Campanário, 22.10.2024).

      Parece-me evidente — e não o concluo, obviamente, por este artigo — que contramina não é somente, como nos fazem crer todos os dicionários, termo militar ou relativo à mineração.

[Texto 20 422]

 

«Morte morrida e morte matada»

Para lá dos limites

 

      Num especial, na SIC Notícias, sobre a agitação que por aí anda na sequência da morte de Odair Moniz, uma afirmação de Helena Roseta fez levantar subtilmente o sobrolho a Teresa Dimas: aquela morte «não foi uma morte morrida, foi uma morte matada». Já não ouvia isto há tanto tempo, que nem me lembrava que existia. Morte morrida é a morte natural, morte matada é a que foi provocada — é forma de dizer não apenas rara, como também para lá dos limites da gramática. 

[Texto 20 421]

Léxico: «morfofenotípico»

Anda por aí

 

      «Mas a pele clara também tem grandes variações: os escandinavos diferem dos gauleses, dos eslavos e assim por diante. O comum é a despigmentação. Branco e negro são categorias morfofenotípicas criadas pelo pensamento colonial a partir da falsa ideia de raça. Não identificam, tentam classificar» («Kamala igual a Harris», Muniz Sodré, Folha de S. Paulo, 18.08.2024, p. A2).

[Texto 20 420]

Grafia: «Tutancâmon»

Preferível, porque português

 

        «Anunciado como o maior museu arqueológico do mundo, o Grand Egyptian Museum, em Gizé, inicia a abertura ao público em fase de testes, antes da inauguração oficial. Mais de 14 mil artefactos já foram colocados nas principais galerias de exibição para contarem a história da realeza, sociedade e crenças egípcias ao longo dos tempos. Só a colecção completa do rei Tutancâmon expõe 5390 peças» («Egipto. Nova maravilha», Além-Mar, Novembro de 2024, p. 6).

        Curiosamente, é a segunda vez, numa semana, que me deparo com Tutancâmon. No primeiro caso, era numa tradução; neste caso, uma revista. Ora, é tanto mais curioso que a mesmíssima Porto Editora, em textos de apoio da Infopédia, opta por Tutankhamon.

[Texto 20 419]

Léxico: «isoperimetria | isoperimétrico | isoperímetro»

Resultados noutros dicionários

 

      «A questão matemática por trás da astúcia de Dido —que chamamos problema isoperimétrico— foi formulada no século 2 a.c. pelo grego Zenodorus (200–140 a.c.): “De todas as figuras planas com um perímetro dado, qual tem maior área?”. O perímetro é o comprimento da fronteira da figura: no caso de Cartago, ele corresponde ao comprimento do cordão» («A rainha da Fenícia e o problema isoperimétrico», Marcelo Viana, Folha de S. Paulo, 23.10.2024, p. A60). (Claro que se deve optar por Zenodoro, mas, para os Brasileiros, em relação aos nomes, quanto mais exóticos ou extravagantes, melhor.)

[Texto 20 418]