Uma pálida ideia
«No âmbito de uma investigação arqueológica a decorrer actualmente na cidade italiana de Pompeia, soterrada pelas cinzas do vulcão do monte Vesúvio em 79 d.C., foi descoberta uma pequena mansão cuja decoração incluía frescos retratando cenas eróticas. Um deles retrata um sátiro (semideus das florestas metade humano, metade bode) aos abraços com uma ninfa nua na cama, enquanto outro mostra um casal que, escreve o The Art Newspaper, “pode ser Vénus e Adónis”» («Casa decorada com frescos eróticos encontrada em Pompeia», Público, 26.10.2024, p. 47).
Hum, não me parece que a definição de sátiro no dicionário da Porto Editora seja a mais completa: «MITOLOGIA semideus dos pagãos, com pés de bode, que tinha por hábito escarnecer de toda a gente». Claro, os pés de bode, mas, e o resto? E toda a carga de simbolismo sexual? Os sátiros, na sua iconografia, são muitas vezes retratados em estados de excitação sexual, reflectindo o seu comportamento hedonista e o seu papel como símbolos dos impulsos primários, incluindo o desejo sexual. Tanto assim é que, na segunda acepção, um sentido figurado, já é o «indivíduo devasso e cínico». E a sua ligação a Dionísio? Também não diria que tinham por hábito escarnecer de toda a gente: na realidade, os sátiros são muitas vezes figuras cómicas ou bufas, representando o lado humorístico e ridículo dos desejos humanos. São propensos a brincadeiras e traquinices. Talvez se devesse também mencionar que são frequentemente representados a tocar instrumentos, especialmente a flauta de Pã. Quanto ao aspecto físico, diga-se que são tradicionalmente retratados com uma combinação de características humanas e animais. Geralmente, têm corpo de homem, mas com orelhas, cauda e, por vezes, patas de cabra ou cavalo. Algumas versões mais tardias também lhes atribuem chifres. Para terminar, merece também realce o seu comportamento hedonista: são conhecidos pelo seu comportamento desregrado, simbolizando o impulso carnal, a busca por prazer e a libertinagem. Estão sempre associados à bebida, especialmente o vinho, e a actividades festivas e de desenfreio sexual. Costumam perseguir ninfas e outras figuras femininas na mitologia.
[Texto 20 432]