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Linguagista

Definição: «neurodiversidade»

O valor dos exemplos, de novo

 

      «Desde que tiene este trabajo puede hacerlo. Boter es una de las 82 personas con neurodiversidad —autismo, TDAH, dispraxia, dislexia, trastorno de personalidad— que trabajan en atención al visitante en la Casa Batlló, de Antoni Gaudí, icono del modernismo y de Barcelona, y, desde 2021, pionera en la inclusión laboral de personas neurodivergentes» («Trabajadores con autismo rompen tópicos ante los visitantes de la Casa Batll», Laura Fernández, El País, 25.08.2024, p. 30).

      Costuma dizer-se que uma imagem vale mais do que mil palavras. Devia afirmar-se o mesmo dos exemplos, já que, não raro, são os exemplos que nos levam à compreensão dos conceitos.

[Texto 20 438]

Léxico: «subclado»

Não se descure o léxico da ciência

 

      «Los clados y las variantes son diferentes formas de clasificación de los virus: las variantes están por debajo del clado, ya que dentro de un clado puede haber varias variantes. La mpox se ha dividido tradicionalmente en dos clados, el I y el II, y el II a su vez se ha subdivido en dos subclados, el IIa y el IIb» («“Debemos intentar no repetir los errores de hace dos años”», Á. S., La Voz de Galicia, 17.08.2024, p. 21).

[Texto 20 437]

«Vencer (ou não) o cancro»

Isso não faz sentido

 

      «Portanto, deixem-me repetir e contradizer aquilo que vi e ouvi tantas vezes nos últimos dias, seguindo também aqui a linha de um dos jornalistas portugueses que mais fala do tema da doença, Paulo Farinha: não, Marco Paulo não perdeu a batalha com o cancro, porque não há batalha; esta maneira de ver a doença como uma guerra para ganhar é, na verdade, a versão médica do pensamento positivo do coaching, porque dá a entender que se pode vencer o cancro só pela força de vontade. Isto é um erro tão absurdo que até dói» («Marco Paulo não perdeu a batalha com o cancro», Henrique Raposo, Expresso Diário, 28.10.2024, 11h16).

      Não podia estar mais de acordo: também eu desespero e me arrepelo como um danado quando ouço isto de ganhar ou perder a batalha contra o cancro. E as razões são as mesmas de Henrique Raposo. Dá ideia de que os que acabam por morrer de cancro eram uns fracos, quando não é nada disso. Os jornalistas, pelo menos eles, deviam deixar os totós falar assim e eles próprios absterem-se de o fazer.

[Texto 20 436]

Quando não se sabe identificar o sujeito

Muito mais difícil do que economia

 

      Mariana Mortágua, anteontem, na 5.ª Conferência Nacional do BE: «Trabalharemos para que se juntem forças diferentes e com a mesma clareza programática e nos objetivos. Mas há uma coisa na qual eu tenho [a] certeza absoluta. A nossa fidelidade, a nossa lealdade é para com as milhares de pessoas que saem à rua pelo direito à habitação.» É matéria que exige mais um pós-doc. Não vai lá de outra forma. Mas também têm de ter sorte com o professor.

[Texto 20 435]

Extras! Extras! Extras!

É todos os dias

 

      «Este ano letivo houve 567 professores que tinham abandonado a profissão e que regressaram ao ensino, o que permitiu reduzir o número de alunos sem aulas. Segundo o Ministério da Educação, Ciência e Inovação (MECI), houve ainda 2016 horas extras atribuídas a professores que permitiram garantir as aulas a 16 912 alunos» («567 professores voltam ao ensino», Bernardo Esteves, Correio da Manhã, 28.10.2024, p. 21).

[Texto 20 434]

Ínsulas, ilhas e erros

Então contem lá

 

      «A residência contendo estas obras foi descoberta no âmbito de uma investigação arqueológica que está a decorrer num quarteirão de Pompeia designado Insula dei Casti Amanti (Ínsula dos Amantes Castos, em português)» («Casa decorada com frescos eróticos encontrada em Pompeia», Público, 26.10.2024, p. 47). Pois, ínsula, mas melhor seria traduzir-se por «ilha» — até pelas muitas similitudes entre a ilha, o núcleo de habitação operária típico do Porto, e a insula pompeiana.

      (Já «contendo» por «que contém» é pura francesia, nefanda e evitanda. Claro que, à distância, sem o auxílio da escrita, até receio, justificadamente, aconselhar «que contém», porque a falta do acento é mais comum do que os meus nervos aguentam.)

[Texto 20 433]

Definição: «sátiro»

Uma pálida ideia

 

      «No âmbito de uma investigação arqueológica a decorrer actualmente na cidade italiana de Pompeia, soterrada pelas cinzas do vulcão do monte Vesúvio em 79 d.C., foi descoberta uma pequena mansão cuja decoração incluía frescos retratando cenas eróticas. Um deles retrata um sátiro (semideus das florestas metade humano, metade bode) aos abraços com uma ninfa nua na cama, enquanto outro mostra um casal que, escreve o The Art Newspaper, “pode ser Vénus e Adónis”» («Casa decorada com frescos eróticos encontrada em Pompeia», Público, 26.10.2024, p. 47).

      Hum, não me parece que a definição de sátiro no dicionário da Porto Editora seja a mais completa: «MITOLOGIA semideus dos pagãos, com pés de bode, que tinha por hábito escarnecer de toda a gente». Claro, os pés de bode, mas, e o resto? E toda a carga de simbolismo sexual? Os sátiros, na sua iconografia, são muitas vezes retratados em estados de excitação sexual, reflectindo o seu comportamento hedonista e o seu papel como símbolos dos impulsos primários, incluindo o desejo sexual. Tanto assim é que, na segunda acepção, um sentido figurado, já é o «indivíduo devasso e cínico». E a sua ligação a Dionísio? Também não diria que tinham por hábito escarnecer de toda a gente: na realidade, os sátiros são muitas vezes figuras cómicas ou bufas, representando o lado humorístico e ridículo dos desejos humanos. São propensos a brincadeiras e traquinices. Talvez se devesse também mencionar que são frequentemente representados a tocar instrumentos, especialmente a flauta de Pã. Quanto ao aspecto físico, diga-se que são tradicionalmente retratados com uma combinação de características humanas e animais. Geralmente, têm corpo de homem, mas com orelhas, cauda e, por vezes, patas de cabra ou cavalo. Algumas versões mais tardias também lhes atribuem chifres. Para terminar, merece também realce o seu comportamento hedonista: são conhecidos pelo seu comportamento desregrado, simbolizando o impulso carnal, a busca por prazer e a libertinagem. Estão sempre associados à bebida, especialmente o vinho, e a actividades festivas e de desenfreio sexual. Costumam perseguir ninfas e outras figuras femininas na mitologia.

[Texto 20 432]

Léxico: «cabaçote»

Ela preveniu

 

      No sábado, Joana Barrios recebeu o chefe Vítor Adão no seu Refeitório. Vítor Adão nasceu e cresceu numa pequena aldeia do concelho de Chaves entre tainadas, tachos e panelas. Ora bem, com 5 anos já se enfiava, sozinho, na cozinha lá de casa e se punha a cozinhar. Ainda não era alta-cozinha, supomos. Um dos primeiros pratos foi cabaçote guisado. Joana Barrios viu-se obrigada a explicar que se trata de uma espécie de abóbora. Há anos, porém, que os livros de receitas trazem pratos que têm o cabaçote como ingrediente. Infelizmente, os nossos dicionários só conhecem o cabeçote.

[Texto 20 431]