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Linguagista

Léxico: «engenheirado»

Diz-se no Brasil

 

      «Coordenador de Campus e Eventos, o engenheiro Guilherme Taunay Ferreira conta que o colégio enviou uma carta convite a cinco escritórios de arquitetura, na qual requisitava uma construção sustentável. Do total, três das propostas eram de madeira engenheirada. “Um dos pilares do colégio é a sustentabilidade. A madeira também traz um conforto, um aconchego, um bem-estar, da biofilia”, diz. Iniciada há um ano, a obra deve ser entregue em novembro, a tempo de receber as crianças no próximo ano. Ao todo, são 3,4 mil m2 de área construída» («Prédios feitos de madeira ganham força em SP», Priscila Mengue, O Estado de S. Paulo, 3.11.2024, p. C7).

[Texto 20 468]

Léxico: «papel-japão»

Uma lição e uma irritação

 

      Fui ver a exposição Coco Chanel — além da moda, patente no Centro Cultural de Cascais. Pois, já não vão a tempo. Do que mais gostei foi de meia dúzia de obras de Salvador Dalí, águas-fortes (plural, Porto Editora) sobre papel-japão nacarado. Uma coisa que me irritou foi encontrar num texto sobre a relação de Coco Chanel com Apel·les Fenosa (1899-1988) o nome deste mal escrito: com hífen! Caros responsáveis da Fundação D. Luís I, acho bem que contratem seguranças e senhoras da limpeza, mas para os painéis, legendas e folhas de sala será melhor passarem a contratar um revisor. É como acabaram de ler: Apel·les. O nome grafa-se com um punt volat (ponto médio ou ponto elevado) entre os dois ll, que é característico da ortografia catalã. Usa-se para separar dois ll quando devem ser pronunciados separadamente (como em Apel·les, cel·la, mol·lusc, excel·lent, etc.), distinguindo esta situação do dígrafo ll, que representa um som diferente em catalão (semelhante ao lh português).

[Texto 20 467]

Freguesia, vila, cidade

Também seria útil

 

      «A diferença na classificação pode ver-se nos castelos que encimam o escudo: uma freguesia ostenta três castelos, uma vila quatro e a cidade exibe cinco no topo das bandeiras. Não é obrigatório mudar quando há alterações» («Portugal vai ter mais nove cidades e vila após 11 anos sem lei», João Paulo Costa, Jornal de Notícias, 3.11.2024, p. 10). Há pelo menos dois verbetes em que se podia dizer isto: dos respectivos vocábulos ou em escudo. (Diga-se, a propósito, que a definição de escudo nesta acepção é muito mais clara e completa no Michaelis, por exemplo.)

[Texto 20 466]

Definição: «vila | cidade»

Muito pobrezinho

 

      «A Assembleia da República já aprovou, na generalidade, as novas classificações, mas oficialmente só mudarão de categoria depois da comissão parlamentar de Poder Local confirmar se reúnem os requisitos, o que deverá acontecer na próxima semana, adiantou, ao JN, Pedro Delgado Alves, deputado do PS e um dos autores da nova lei, que atualizou equipamentos e indicadores demográficos (passou de oito mil para nove mil eleitores nas cidades e manteve os três mil para as vilas)» («Portugal vai ter mais nove cidades e vila após 11 anos sem lei», João Paulo Costa, Jornal de Notícias, 3.11.2024, p. 10).

      O dicionário da Porto Editora (bem, todos) tinha de dizer o mínimo na definição dos termos vila e cidade nestas acepções. E o mínimo é justamente o número de habitantes que estas localidades têm de ter para ascender a esta categoria. Quanto aos demais requisitos, bastava dizer que têm de preencher pelo menos dois terços dos equipamentos ou instituições de uma lista fixa. Com estas simples informações, neste ponto, os dicionários fariam jus ao nome popular de tira-teimas que têm. Se se limitarem, como agora, a fazer a distinção com base na categoria inferior ou superior, esse subjectivismo estéril vai comunicar-se aos próprios falantes.

[Texto 20 465]

Léxico: «paradoxo da escolha»

Por vezes, também faz mal

 

      «O psicólogo Barry Schwartz ficou famoso ao explicar o que chamou de “paradoxo da escolha”. Em resumo, o excesso de opções acaba deixando os consumidores paralisados ou insatisfeitos. O mercado financeiro vive algo semelhante em relação aos títulos de renda fixa» («Renda fixa vive ‘paradoxo da escolha’», Marcos de Vasconcellos, Folha de S. Paulo, 28.10.2024, p. B1). Faz lembrar o asno de Buridan. Por vezes, esse asno somos nós. Não falo por mim: falo por todos.

 

[Texto 20 464]

 

P. S.: Claro que não foi invenção ou capricho meus. Anglosphere, lê-se no Collins, é «a group of English-speaking countries that share common roots in British culture and history, usually the UK, the US, Australia, New Zealand, and Canada».