Léxico: «flóber»
Como em tantos outros casos
«De regresso à Costa Nova, adoeci. Diagnosticaram-me uma pleurisia. Nesse tempo era uma doença complicada. Tive de ser internado no Hospital de Águeda. Valeu-me a estreptomicina. Mas estive mal. Fui convalescer para a Giesteira, entre Águeda e o Caramulo, numa quinta pertencente a uns primos amigos. Ovos, cerveja preta e muitas arrozadas de pardais caçados com a flóber. Tive um namorico com uma rapariga da terra, que vinha dançar comigo uns tangos que eu punha no gramofone» (Memórias Minhas, Manuel Alegre. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2024, 3.ª, p. 43).
É mais um caso de derivação imprópria: de Flobert, marca de certo tipo de arma de pressão de ar, passou-se a designar por flobert qualquer arma do mesmo tipo, independentemente da marca. Ora, Manuel Alegre sabe francês, e nós também. Se o escreveu desta maneira, é porque sente, e bem, é a pura realidade, que o falante comum é assim que pronuncia — e escreve, que é o que mais interessa para o caso — a palavra.
[Texto 20 474]