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Linguagista

Léxico: «limnoterrestre»

Para ajudar os cientistas

 

      «Em 2023 foram registradas no mundo 271 espécies limnoterrestres de tardígrados, do norte do México ao sul da Argentina. Como só parte do norte do México está inserida na região de abrangência do estudo —Neotropical e Andes—, quatro espécies foram removidas das análises, totalizando 267 espécies» («Animais microscópicos, tardígrados são menos cosmopolitas e mais diverso», André Julião, Folha de S. Paulo, 11.11.2024, p. B16).

      Isso mesmo: de limn(o)- (do grego λίμνη, «lago; pântano») + terrestre, pelo inglês limnoterrestrial. Diga-se também, Porto Editora, que a língua portuguesa dispõe de muitas outras palavras compostas com o elemento de formação limn(o)- que tu não registas. Um exemplo? Dou-te dois: limnobiólogo, precisamente o especialista desses meios, e limnónimo, nome próprio de um lago. Mais dois? Seja: limnometria, o estudo das variações periódicas da altura do nível dos lagos e cursos de água, e limnógrafo, o instrumento utilizado para medir e registar automaticamente a profundidade e a temperatura da água em lagos, rios e outras massas de água.

[Texto 20 506]

Léxico: «neotropical»

Só um retoque

 

      «Por isso, em estudo publicado em julho deste ano no Zoological Journal of the Linnean Society, pesquisadores da Unicamp apoiados pela Fapesp ressaltam a importância de desconsiderar registros históricos de tardígrados neotropicais, provavelmente identificados incorretamente, ao estudar os padrões de distribuição desse grupo de animais microscópicos» («Animais microscópicos, tardígrados são menos cosmopolitas e mais diverso», André Julião, Folha de S. Paulo, 11.11.2024, p. B16).

      Sendo assim, Porto Editora, em neotropical não podes dizer só isto: «designativo da região biogeográfica que se estende do centro do México até ao extremo sul da América do Sul».

[Texto 20 505]

Léxico: «perovskite | perovskita»

Com que então, desde 1839

 

      «Em seu laboratório no Instituto de Química da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a pesquisadora Ana Flavia Nogueira aprimora, desde 2016, uma matéria-prima que pode se tornar, segundo analistas do setor, uma das formas mais baratas e eficientes de produzir energia limpa no futuro: a perovskita. [...] A perovskita é um mineral (óxido de cálcio e titânio, de fórmula CATIO3) raro. Foi descoberta nos Montes Urais, na Rússia, em 1839. Versões de laboratório têm estrutura cristalina semelhante à da natural. Uma delas, a perovskita híbrida orgânico-inorgânica, usada em pesquisas da Unicamp, é sintetizada a partir do uso de compostos químicos como brometo de chumbo, iodeto de chumbo e brometo de césio. Uma de suas fórmulas é CH3NH3PBI3» («Brasileiros desenvolvem material que promete células solares mais eficiente», Guilherme Pavarin, «Seminários»/Folha de S. Paulo, 11.11.2024, p. 6). Sim, isso mesmo: «De Perovski (antropónimo, do mineralogista russo Lev Perovski) + -ite».

[Texto 20 504]

Confusão: «implementar/implantar»

Acabados de chegar à Terra

 

      «A petrolífera espanhola Cepsa está a dar lugar a uma nova marca chamada Moeve, 90 anos depois de se implementar no mercado. A ocasião assinala a transição da marca dos combustíveis fósseis para as energias limpas. A mudança visual começou este mês e deverá ser gradual ao longo do ano, devendo atingir os quase 2 mil postos existentes nos dois países. A empresa espanhola prevê investir oito mil milhões até 2030» («Cepsa muda de nome para Moeve», Jornal de Notícias, 12.11.2024, p. 21).

      Desconhecemos, para sorte dele (e se calhar nossa) quem foi o escriba, mas que é lamentável, disso não há dúvida. Em princípio não foi obra da senhora da limpeza nem do segurança. É implantar no mercado, não implementar no mercado. E já aqui vimos, não é boato, alguém escrever «implementação da República».

[Texto 20 503]

 

Léxico: «pedovia»

Não podemos é ficar quietos

 

      «O vice-presidente destaca a intervenção para remoção de plantas invasoras e a conclusão da pedovia e da ciclovia. Nuno Piteira Lopes refere que a finalização ainda não tinha sido feita por algumas partes coincidirem com terrenos privados» («Cascais lança plano para proteger habitats e ordenar estacionamento», Teresa Serafim, Público, 23.10.2024, p. 21).

      O nosso elemento de formação de palavras que exprime a ideia de pé é ped(i)-, mas vão lá dizer isso aos autarcas. (Como estas: pedicura/pedicuro, pedículo, pediculose, pediforme, pedilúvio.) Só nos ouviriam se tivéssemos algum truque para eles permanecerem mais tempo, ou eternamente, no poder. É pedovia que se vê cada vez com mais frequência, e temos de fazer alguma coisa. Naturalmente, nada nem ninguém impede os dicionaristas de, no verbete, chamar a atenção para a grafia preferível. Até o deviam fazer em mais verbetes.

[Texto 20 502]

Léxico: «poço de ataque»

Essencial, mas ausente

 

      «A estação de Campo de Ourique, cuja localização tinha sido alvo de objeções por moradores da área devido aos efeitos no Jardim da Parada, vai ser construída com recurso a apenas um “poço de ataque”, minimizando assim o impacto no espaço público. A estação vai ter cinco acessos, um deles com dois elevadores» («Veja aqui a nova estação de metro do Infante Santo»,  João Pedro Quesado, Rádio Renascença, 11.11.2024, 19h24).

      As aspas, para João Pedro Quesado, devem querer dizer «desculpem, isto não está nos dicionários e eu tenho medo de estar a ofender alguém». Pelo menos no da Porto Editora não está. Aliás, todo o verbete de poço está a pedir mais substância. Quanto a poço de ataque (access shaft, em inglês, ou até mesmo apenas shaft), bem, para construir túneis é quase essencial.

[Texto 20 501]

 

 

P. S.: Mas tem de haver uma solução para tórico: ao clicar em «toro» na definição do adjectivo tórico, remete-se o leitor directamente para a 7.ª acepção de toro, a única a que diz respeito. E, afinal, já é solução que adoptaram para outros vocábulos. Deixar o falante desamparado, ou a fazer coisas à toa, é que não.