«Desconcertar»
Língua desconcertada
De muito e diverso se fala aqui no blogue, mas se parece que perdemos tempo quando tratamos de estrangeirismos e matéria afim, não é assim. Pretende-se tão-somente ter consciência da língua que se fala. Por exemplo, desconcertar, no sentido de causar perplexidade, que não é hoje em dia muito frequente, não é galicismo em estado puro?
«Isto de certa maneira desconcerta. Desde o princípio do século XIX que Portugal, em mais de um sentido, foi um protectorado inglês. A Inglaterra provocou na prática a independência do Brasil. A Inglaterra armou e pagou o movimento liberal para invadir o iníquo reino do senhor D. Miguel» («A nova sessão de patriotismo», Vasco Pulido Valente, Público, 9.12.2011, p. 44).
Vem do francês déconcerter: «Surprendre quelqu’un, lui faire perdre l’assurance de son jugement ou de la conduite à tenir.» No tempo de Bluteau, apenas se desconcertava um relógio, um pé, um acordo. Agora, o desconcerto é universal. E a língua evolui — pois claro. Espera: «evoluir» não foi acoimado de galicismo?! Evoluciona, então. Evolve, seja. Evolute, e não se fala mais nisso. Esta, outra variante, Camilo usou-a, e agora os dicionários não a registam.
[Texto 791]