«Língua de Todos»
Salvo seja
Eis o começo do programa Língua de Todos emitido no dia 6 do corrente: «Segundo o Dicionário Aurélio, “filologia”, do grego Φιλολογία, é o estudo da língua em toda a sua amplitude e dos documentos escritos que servem para documentá-la. Numa segunda asserção, inclui também a crítica textual.»
E estes, caros leitores, são bisbórrias da glote ou outra raça de torcionários da língua? Não valia a pena sermos muito severos, se não se tratasse de um programa realizado pelo Ciberdúvidas. Como é que alguém — no caso, e como agravante, uma equipa — que se «dedica à língua portuguesa» pode confundir conceitos tão diferentes? É um erro crassíssimo.
Asserção vem do latim assertio, de assero, «afirmar», «assegurar»; acepção vem do latim acceptio, de accipio, «receber», «aceitar». Têm, em latim como em português, sentidos bem estabelecidos e diferentes. Asserção significa «afirmação categórica», «alegação». Acepção é a designação que se dá em lexicografia a cada um dos vários sentidos que palavras ou expressões apresentam de acordo com cada contexto.
Agora, um exemplo da literatura: «E para comprovar a sua asserção, explicou ao Visconde a acepção pejorativa, que tomava a palavra paca tôda vez que era empregada com relação ao homem» (Contos Reunidos, Gastão Cruls. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1951, p. 93).
[Texto 955]