Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Linguagista

«Se» apassivante (iii)

Boa pergunta

 

 

      «Os que defendem que o “se” é pronome indefinido e sujeito do verbo, raciocinam assim: o “on” francês é um pronome indefinido, sempre sujeito no singular e requer, portanto, o verbo no singular; ora o “se” português ocupa o lugar do “on” francês. Por conseguinte, o “se” português é também um pronome indefinido e sujeito do verbo no singular (vende-se casas, apanha-se urtigas, cata-se pulgas, etc.).

      Com franqueza! Os macacos me mordam se isto não é um argumento menos que primário! Se, por hipótese, e sem ponta de malícia, não existisse a caríssima Língua Francesa — que eu só ensinei trinta e nove anos! — mas houvesse a Língua Portuguesa tal como é, que haveríamos de chamar ao “se”?» (Nem Tanto Erro!, de Américo F. Alves. Edição do autor, Braga, 1993, pp. 85-86).

 

[Texto 1298] 

4 comentários

  • Sem imagem de perfil

    Eduardo 15.04.2012 01:48

    Só tenho uma dificuldade em aceitar a questão do plural em "Vendem-se casas" (e construções análogas).


    Ou entendo mal o português, ou o verbo concorda em número e pessoa com o sujeito.


    Na expressão "Vende-se casas", "casas" é, até onde chega o meu entendimento, o Complemento Directo...


    Sendo assim, a que vem a concordância do verbo com o CD?


    Claramente, o sujeito é subentendido: "Alguém".


    É frequente empregarmos a expressão "A que horas é que SE come?" Ao que se responderia: "Hoje come-SE às 20:30" (p. ex.)


    Então este "SE" (em ambos os casos) é apassivante?... Não me parece.


    Ora, a ser assim, parece haver um "se" indefinido com o valor de "a gente".


    Ponhamos por hipótese: passando eu à porta de um estabelecimento comercial e não sabendo qual é o ramo a que se dedica, posso perguntar "O que SE VENDE aqui?" É mais que legítimo que se responda (alguém responda), com todo o respeito pelo "Imperador da Língua Portuguesa": "Aqui VENDE-SE pregos."


    Cumprimentos
  • Sem imagem de perfil

    Montexto 15.04.2012 15:09

    Não entende mal o português. Entende-o malissimamente, se é que o chega a entender de algum modo, por remoto e aproximado que seja.

    Mais explicações e exemplos suceder-se-ão sucessivamente cem cessar em próximos capítulos.

    Não porque sejam necessários nem sequer suficientes - quem, depois do que ficou exposto ainda não percebeu, melhor: quem, depois de ler as páginas dos melhores e praticamente de todos os autores portugueses bons e maus, ainda não advertiu nesse facto da língua, nunca jamais em tempo algum o perceberá nem reconhecerá, e é escusado explicar-lho, - mas porque sim.
    E para descobrir que Fernão Lopes, Bernardim, o bom Sá, António Ferreira, Luís de Camões, Luís de Sousa, António Vieira, Francisco Manuel de Melo, Manuel da Costa, Manuel Bernardes, Almeida Garrett, António Feliciano de Castilho, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Machado de Assis, Ramalho Ortigão, Antero de Quental, Eça de Queirós, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro, Cesário Verde, António Nobre, Camilo Pessanha, Aquilino Ribeiro, Fernando Pessoa, Graciliano Ramos, João de Araújo Correia, Vitorino Nemésio, Miguel Torga, Nelson Rodrigues, Agostinho da Silva, José Saramago, e outros, - afinal erraram sistematicamente a sua língua, pelo visto só agora emendada com a descoberta mirífica da subjectividade do «se».                    
  • Sem imagem de perfil

    Eduardo 15.04.2012 18:30


    Caro Montexto: seria preferível que os exemplos se sucedessem sem cessar. "Montextus aliquando dormitat". Acontece até mesmo aos infalíveis.


    Demonstrada que ficou a minha ignorância e incapacidade absoluta de entender (ainda que remotamente) o português, fica, no entanto, por demonstrar que "casas/pregos" (etc.) não sejam os complementos directos nas expressões que utilizei como exemplo.

    Continua ainda por demonstrar que o facto de, na expressão "Casas são vendidas" , "casas" ser o sujeito não constitui a máxima prova de que, na construção activa correspondente, "casas" é o complemento directo. E se no seu português (às vezes até parece que ele é seu) o verbo concorda em pessoa e número com o complemento directo, pois não há de facto nada mais a dizer.


    Continua, além disso, por demonstrar, que a partícula "se" (em "A que horas se come?" seja apassivante.


    E continua por demonstrar, por fim, que em alguma altura em tivesse defendido que "se" era o sujeito fosse de que frase fosse. O que eu disse é que há um "se" com valor indefinido - subentendido na frase.


    Correr a ignorantes radicais todos os que ousam admitir a possibilidade de "se" não ser apassivante é um direito a que se arroga, mas que, de facto, não lhe assiste. por mais expressões arcaicas e vocábulos raros que conheça.
  • Comentar:

    Comentar via SAPO Blogs

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.

    Este blog optou por gravar os IPs de quem comenta os seus posts.