Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Linguagista

Esqueçam a «golpaça»

Neste ínterim

 

 

      Jornalista Sandra Sá Couto no Jornal da Tarde de ontem: «Marcelo deixou cair a palavra “golpaça”, porque descobriu que não existe no dicionário, mas mantém que a revisão dos estatutos no PS foi um golpe de António José Seguro.»

      Descobriu... Na Internet não se tem falado de outra coisa. Bem, «não existe no dicionário», e depois? Não se pode usar por isso, querem ver? Isto é que é uma compreensão da língua... O Ciberdúvidas de ontem publicou a opinião de Paulo J. S. Barata sobre esse crime de lesa-língua. Transcrevo os últimos três, e mais significativos, parágrafos: «Neste ínterim ninguém parece ter reparado que a palavra “golpaça” não está dicionarizada, o que está é golpada.

      O que fez Marcelo Rebelo de Sousa? Pegou no substantivo golpada, retirou-lhe o sufixo -ada e substituiu-o pelo sufixo aumentativo -aça, conferindo uma conotação mais pejorativa a uma palavra que já a tem. O sufixo -aça é usado em palavras como por exemplo gentaça, mulheraça, louraça, peitaça ou populaça, colocando-lhes frequentemente algo de depreciativo. Não lhe chegando o golpe ou a golpada, que já significa “grande golpe” ou golpe forte, Marcelo Rebelo de Sousa quis ainda carregar um pouco mais nas cores e cunhou, mas corretamente — diga-se —, esta “golpaça”...

      E assim se criam novas palavras...»

      Enfim, opiniões. Marcelo Rebelo de Sousa sai sempre a ganhar. Agora criou uma nova palavra, dizem os especialistas.

      «Valentim ficou ali especado, cheio de raiva. Não conseguiu fixar a matrícula. E nada se podia fazer, era uma golpaça frequente, tinha que se ter o maior cuidado com estes sujeitos... — disseram-lhe na portaria» (Assim Se Esvai a Vida: Três Livros num Só, Urbano Tavares Rodrigues. Revisão de Clara Boléo. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 2010, p. 278).

 

[Texto 1346]