Não tenho a certeza, mas, no caso, parece-me q uma vírgula logo depois de 'consenso', a criar uma oração intercalada, também redimiria a frase.
Exacto, Rui. Esse é um recurso perfeitamente legítimo.
Venâncio a 19 de Abril de 2012 às 10:56
Quando o sujeito é formado por um segmento longo não é rara a vírgula entre ele e o resto em bons autores.
Veremos exemplos.
Já tínhamos visto esta questão no Assim Mesmo. O que então escrevi é que dantes a maioria dos estudiosos admitia a vírgula nestes casos, mas que actualmente é consensual que não deve ser usada. Exemplos, evidentemente, não faltam, pois os estudiosos estavam a limitar-se a sancionar a prática.
Eu em casos tais de sujeito muito extenso acho-a perfeitamente compreensível, e nalguns até aconselhável.
Não vejo utilidade em derrogar a regra nesses casos. De qualquer maneira, não a vejo no caso que nos ocupa.
Em certos casos «arruma» melhor a frase. A vírgula e toda a pontuação (como o infinitivo) permitem grande variação. Pode-se pontuar e pontua-se de tanta maneira, igualmente boa e compreensível!
. «Mas o melhor e o mais generoso dos homens segundo a sociedade, é ainda fraco, falso e acanhado»: XXIV, 190, da Lello, e tb na ed. de 1846, e decerto em todas.
. «Este necessário e inevitável reviramento por que vai passando o mundo, há-de levar muito tempo»: I, 5, da Lello, e tb na ed. de 1846, e decerto em todas.
Viagens na Minha Terra., do Garrett da paixão de Anto (e da minha).
Exemplos destes não são raros.
E aquele passo de M. Barreto, citado nos comentos ao «perguntra-se» do texto «requitó», 18.04.2012: «Em nosso idioma, o que fala consigo, diz as coisas para si, entre si, de si para consigo.»
Entre outros casos, acontece muito quando o sujeito é formado por uma oração.
Ainda sobre este artigo do Público de hoje: é correcto dizer/escrever "nenhum dos países africanos que ratificou o AO"?
Francisco Agarez a 19 de Abril de 2012 às 15:16
Claro que não, Francisco.
Venâncio a 20 de Abril de 2012 às 12:47
António Emiliano publicou o artigo na sua página no Facebook, fazendo duas correcções aqui acima sugeridas: eliminou a vírgula em «seja o que for é razão suficiente» e redigiu «nenhum dos países africanos que ratificaram». E disse que o fez por sugestão alheia. Assim procedem as pessoas sérias, e de confiança.
Venâncio a 21 de Abril de 2012 às 05:01
E aqui, mais uma vez nas típicas, simbólicas e míticas Viagens na Minha Terra, Lello, XIV, p. 109, mas outrossim na edição príncipe, em linha: «Quem teme, siga outro caminho; eu nunca.»
Bem dito.
E aqui:
«O que é, portanto, estranho, não é o grupo dos vencidos – o que é estranho, é uma sociedade de tal modo constituída que, no seu seio, assume as proporções de um escândalo, o delírio de 11 sujeitos que uma vez por semana se alimentam. […]
O que de resto parece irritar o nosso caro Correio da Manhã, é que se chamem Vencidos àqueles que, para todos os efeitos públicos, parecem ser realmente vencedores. Mas que o querido órgão, nosso colega, reflicta, que para um homem, o ser vencido ou derrotado na vida depende, não da realidade aparente a que chegou, mas do ideal íntimo a que aspirava.»
Eça, «Os Vencidos da Vida», em Da Colaboração no «Distrito de Évora»-III, p. 287, Ed. «Livros do Brasil», 2000.
Numa só página quatro casos de vírgula a separar o sujeito do verbo, e uma, o verbo do complemento.
(Sobre «é que se chamem Vencidos àqueles» guardemos um pio silêncio…)
Sobre vírgulas, acabei de receber a informação de que
esta obra acaba de ser lançada.
Já agora, deixemos aqui uma referência à «Guia Alfabética da Pontuação», de R. de Sá Nogueira. Com vírgula ou sem ela.
«Em seguida acusa-me Pinheiro Chagas (ainda que genericamente), de «procurar rebaixar o merecimento do escritor que todo o país exaltara», Eça, na ob. cit., «Ainda sobre a Academia», p. 297.
A cada passo. Em Eça e em qualquer outro. Vírgula varia...
«... que todo o país exaltara.»
Lembrei-me agora: parece que já andam por aí a rezar por alma ao pretérito-mais-que-perfeito. Que o 'jovem' escritor lhe foge como o Diabo da cruz, ou nem atina com o seu uso, etc.
Já tinha reparado, aliás já reparara.
Acudam ao mais-que-perfeito.
Não me soava lá muito.
E com efeito: «Com ou sem. Quando estas preposições ocorrem, seguidas do mesmo complemento, é preferível substituir a construção. Exemplo: “com ou sem audácia.” Mais correcto: “com audácia ou sem ela”, com audácia ou não”. Mário Barreto ocupou-se do assunto, proscrevendo aquele modo de dizer»: V. Botelho de Amaral, Dic. de Dific. da Líng. Portug., vol. I, p. 105.
Pois ocupou, bom Vasco, pois ocupou. E bem podias ter dito logo onde para facilitar a busca e consulta às massas sempre ávidas de correcção gramatical e sintáctica, e de curiosidade de farfalhadas glossológicas desta transcendência. Foi nos Novíssimos Estudos da Líng. Portug., cap. IX, p. 107-113 da 3.ª ed., fac-similar, Rio de Janeiro, 1980.
A obra citada tem na capa a referência "Guias Práticos".
Não ficava mais bonito se optassem por "Guias Práticas"?
R.A. a 24 de Abril de 2012 às 09:58
Outrora era só do feminino, depois convolou para o masculino.
Mudança possui tudo (Menina e Moça).
Demorei algum tempo a habituar-me a este «guia» masculino quando cheguei a Portugal; em espanhol («guía») é feminino nesta acepção. E, como este, muitos outros exemplos: em química, «a orbital» em português, «el orbital» em espanhol; em matemática, «o integral» em português, «la integral» em espanhol. Sem esquecer «o sal» português e «la sal» espanhola. Suponho que já alguém terá estudado aprofundadamente a origem destas diferenças. (E cá está mais um caso: «a origem» e «el origen».)
Fernando Ferreira a 25 de Abril de 2012 às 10:22
Ninguém diga que está bem (como no título do cínico Alberto). Pelo visto, as mudanças de sexo estão mais generalizadas do que se poderia pensar ao primeiro lance: nem as palavrinhas lhe escapam.
«Mas nesta foi a Natureza que fez tudo, ou quase tudo, e a educação nada ou quase nada»: Viagens na Minha Terra, XII, 85, da Lello, mas tb na ed. príncipe em linha.
Portanto: tudo, ou quase tudo..., nada ou quase nada.
(Às vezes finjo que me descuido numa que outra vírgula para dar ao texto um ar mais espontâneo ou solto - deixou apontado Borges algures.)
Segundo o que vejo escrito no texto original, parece-me que o que teria sido bom, para certas pessoas, era inserir no acordo ortográfico a regra de usar vírgula entre sujeito e predicado!... Há pessoas que se querem armar em donos e senhores e às vezes não sabem o que fazem! A língua tem de evoluir! Mas não a evolução que lhe tem sido imposta por pessoas que escrevem mal e que se acham no direito de criticar todos os acordos possíveis.
Anónimo a 27 de Abril de 2012 às 10:04
Continuando a observar da vírgula o desconcerto ou capricho ou idiossincrasia ou subtileza, como se queira:
. Cá: «Ontem, a namorada holandesa do meu sobrinho Pedro, chegou dos seus laboratórios (é bióloga) e visitou-me para saber da saúde do mais velho representante dos resistentes de Itamaracá, no Pernambuco. Sou eu.»
António Sousa Homem, 17.06.2012, em linha
. E lá: «Pascal avait trouvé, mais sans doute parce qu’il ne cherchait plus. La cessation de la recherche, et la forme de cette cessation, peuvent donner le sentiment de la trouvaille.»
Paul Valéry, Varieté I et II, Gallimard, Folio, 2002, p. 129.