O desgraçado verbo «pôr»
RIP
É oficialíssimo: o verbo «pôr» morreu mesmo. Depois de alguns anos em coma, morreu esta madrugada. Vai estar esta noite em câmara-ardente na capela do Público. À família enlutada (antepor, apor, compor, contrapor, contrapropor, decompor, depor, descompor, dispor, entrepor, impor, indispor, interpor, justapor, opor, pospor, predispor, prepor, pressupor, propor, recompor, repor, sobpor, sobrepor, sotopor, subpor, supor, transpor, etc.) apresentamos as nossas condolências. Como todos os defuntos, era uma excelente pessoa. Segundo o testemunho emocionado de alguns colegas, como o Dr. Meter e o Eng.º Colocar, nos últimos anos o Sr. Pôr sentia-se muito combalido e maltratado.
«Esta longa enumeração de pecadilhos não deve obnubilar a imensa capacidade narrativa de [Afonso] Cruz, patente não apenas no minucioso encadeamento das situações como no cinzelar de cada cena, nos diálogos (não é de mais elogiá-los de novo) ou no talento para colocar uma personagem em movimento» («Tragicomédia alentejana», João Bonifácio, «Ípsilon»/Público, 22.06.2012, p. 31).
[Texto 1718]