E mais invencionices de Fernando António: por ex. «caturro». Pelo visto, «caturra» não lhe servia. Salvo que aludisse à «ave palmípede» de que reza o dicionário, do que é lícito duvidar: «caturros do passado, como os que escrevem na ortografia antiga por serem monárquicos», inventou na Língua Portuguesa, p. 26 (Assírio), obrinha em que delirou como só se permite ao génio. Amostra, p. 63: «Em – significa não só o lugar ou tempo onde, mas também lugar ou tempo através do qual. No primeiro caso elide com o artículo (no, na, etc.), no segundo não elide. “Estive no Alentejo”, quer dizer que, a dentro do Alentejo, me desloquei; propriamente que percorri o Alentejo. “Diz F. no quarto capítulo do seu livro” quer dizer que nesse quarto capítulo tal cousa se diz; se dissemos “em o quarto capítulo” entender-se-á que é no decurso dele que tal cousa se trata, que esse capítulo é todo ele dedicado a tratar dessa cousa.»
Muito subtil! (Sobre «elidir», intransitivo, corra-se uma cortina caridosa.)
Do último quartel de Oitocentos em diante, avarias destas e maiores topam-se em todos; nuns mais, noutros menos, mas em todos, sem excepção.
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Quanto à «contração»: «Apesar do seu Espírito das Leis ter ido parar ao Índex, à última não constrangeriam o «certinho» e prudente Montesquieu», p. 1695, e «Conta Heródoto que, depois da micrasiática Foceia, na Iónia, ter sido tomada pelos Persas, os Foceenses sofreram várias peripécias», p. 1616-1617 de Factos, Pessoas e Livros, do filólogo J. P. Machado, vol. IV, Liv. Portugal, Lx, 1991. Sabia, ignorava, admitia tanto a «contracção» como a «descontracção», ou coisa tão miúda nunca lhe pejou o entendimento? (E «sofrer peripécias» parece-me facilmente melhorável…)