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Linguagista

Acordo Ortográfico

Caos das chamadas facultatividades

 

 

      A propósito do Acordo Ortográfico, Vasco Graça Moura interpela hoje Jorge Miranda no seu próprio campo, o do direito. Contudo, deixo um excerto mais atinente à ortografia: «O Acordo Ortográfico significa a perversão intolerável da língua portuguesa. Sempre admirei o saber jurídico, a obra académica e a postura cívica do meu amigo Jorge Miranda. Mas não posso concordar com as considerações que ele faz sobre tão sinistro instrumento, no Público de 13.7.2011.

      Uma pessoa pode deixar-se embalar por uma concepção tão poética quanto irrealista da pretensa unidade ortográfica (ontológica, mítica, sublimada…) da nossa língua; pode mesmo prestar tributo a um certo darwinismo, em que o facto de o Brasil ter 200 milhões de pessoas seria razão bastante para sacrificar a norma seguida por mais de 50 milhões de outros seres humanos…

      Mas o que ninguém pode é passar em claro que o AO leva ao agravamento da divergência e à desmultiplicação das confusões entre as grafias e faz tábua rasa da própria noção de ortografia, ao admitir o caos das chamadas facultatividades. Sobre tudo isso existe, de há muito, abundante material crítico, com destaque para os estudos essenciais, demolidores e, note-se, não contrariados, de António Emiliano» («Deveras decepcionado», Vasco Graça Moura, Diário de Notícias, 27.07.2011, p. 54).

 

 

[Texto 349] 

6 comentários

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    J 29.07.2011 12:58

    Nas isso não acontece com qualquer das variantes (já) existentes? É que são mesmo muitas, como o Venâncio bem sabe. Duzentas não engordam grandemente o feixe, não assim tanto que dê para nisso atentar.
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    Venâncio 29.07.2011 15:22

    J,
    Mesmo que fossem só 200 (e, insisto, são muitas mais, e NOVAS!), pense bem: entre elas encontram-se palavras CORRENTÍSSIMAS. 
    Só mais isto: os autores do ACORDO nunca responderam a nenhuma das críticas que (em artigos de jornal, em ensaios, em livros) foram feitas ao produto, por linguistas e juristas. São - além de uns notórios incompetentes - uns cobardolas de trampa. 
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    J 29.07.2011 19:18


    Duzentas não é grande acrescento ao mar de variação existente no português.
    Percebo a sua crítica, mas, além de Malaca Casteleiro e Bechara, alguém sabe quem foram os autores do AOLP? Ou sequer de linguistas, além destes, que o defendem publicamente?
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    Venâncio 29.07.2011 19:42

    J,
    Em Portugal, não sei (e julgo que ninguém sabe) de algum linguista que tenha defendido o Acordo Ortográfico de 1990. Pelo contrário, foram muitos, e competentes, aqueles que lhe denunciaram as insuficiências e as parvoíces.
    E, já agora, saiba que toda a informação disponível coincide neste ponto: o autor material do texto desse Acordo tresloucado foi João Malaca Casteleiro. Sabe-se, também, que o grande Antônio Houaiss ainda tentou, durante as sessões na Academia das Ciências, em Lisboa, nesse Outubro de 1990, sofrear o destemperado académico, mas - como se viu - sem sucesso.
    [Desenvolvo tudo isto numa próxima publicação].
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    C Ferreira 29.07.2011 21:57

    É sabido que o Acordo de 1990, de simplificação e de alguma unificação, é a versão fraca do Acordo de 1986 (esse, sim, um acordo de verdadeira unificação). As críticas ao A 1990 são também críticas ao A 1986.

    Ora, o mui competente e corajoso, diria mesmo iluminado Venâncio talvez devesse ter lembrado que, além do destemperado Malaca, aquele acordo de 1986 fora negociado pela seguinte lista de  "notórios incompetentes" e "cobardolas de trampa", em representação de Portugal: Jacinto Nunes, Maria de Lourdes Belchior Pontes, Maria Helena da Rocha Pereira, Luís Filipe Lindley Cintra, Américo da Costa Ramalho e Fernando Alves Cristóvão.

    Recuando no tempo, cumpriria igualmente relembrar a moção apresentada em 1967 ao Primeiro Simpósio Luso-Brasileiro sobre a Língua Portuguesa Comtemporânea,
    "assinada por alguns dos principais filólogos portugueses e brasileiros da época" e que viria a ser aprovada "por todos os participantes presentes". (Lindley Cintra, As origens do novo acordo. Revista Icalp nº 5, julho 1986).
     
    Talves valha a pena trazer à colação o depoimento de Maria de Lourdes Belchior Pontes:

     "O resultado a que se chegou não é um trabalho de improvisação, nem foi solicitado de improviso pelo Brasil; corresponde a uma larga elaboração, com bases muito sólidas que vêm desde o I Simpósio sobre a Língua Portuguesa Contemporânea, em 1967; são sugestões depois prolongadas numa comissão constituída por Jacinto do Prado Coelho, por Rebelo Conçalves e secretariada por António Ribeiro dos Santos; houve um longo trabalho científico que serviu de base ao aprovado no Rio de Janeiro. Partimos para o Encontro com um texto de 53 Bases, que lá foram reduzidas a 23. A parte brasileira aceitou parcialmente, se não totalmente, o trabalho elaborado pela parte portuguesa." (ibidem, p. 58)

    E, já agora, anote-se que o linguista Ivo Castro, o qual, sem desprimor para os visados, seguramente pede meças a quaisquer venâncios ou emilianos, emitu juízo favorável em termos gerais ao Acordo de 1990.
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