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Linguagista

Definição: «buraco de verme»

Deixem lá as minhocas em paz

 

      A Porto Editora regista no seu Dicionário da Língua Portuguesa «buraco de minhoca ou buraco de verme» com a definição: «atalho hipotético entre dois pontos muito distantes no espaço-tempo, também conhecido como ponte de Einstein-Rosen». Embora a definição esteja correcta, a equiparação terminológica entre minhoca e verme levanta reservas sérias do ponto de vista científico e linguístico.

      O termo inglês wormhole é uma metáfora abstracta, não zoológica, e tem sido vertido em português europeu técnico e académico como buraco de verme — forma consagrada em manuais de Física, obras de divulgação científica e textos universitários. A escolha de «verme» não é arbitrária: trata-se de um termo genérico e neutro, usado em taxonomias biológicas e por extensão metafórica em diversos domínios técnicos (verme intestinal, verme de computador, etc.). «Minhoca», pelo contrário, é um termo específico e popular, que remete para um anelídeo terrestre em particular (Lumbricus terrestris), com forte carga imagética e informal. Ao traduzir wormhole por buraco de minhoca, o dicionário enfraquece a abstração necessária do conceito e aproxima-o indevidamente de um universo concreto e zoológico que nunca foi pretendido — nem pelo original, nem pelo uso especializado em português.

      É verdade, infelizmente, que, como em tudo, há excepções: alguns textos jornalísticos ou de divulgação simplificada optam por «minhoca» para tornar a ideia mais acessível ou porque o autor não reflectiu bem. Acontece, não é? Mas isso não justifica que o dicionário legitime a forma mais infeliz em pé de igualdade com a correcta. No mínimo, deveria indicar buraco de verme como forma preferida no português técnico e académico.

[Texto 21 431]

Definição: «exfiltração»

Para serem minimamente simétricas

 

      Ontem à noite, na CNN Portugal, o Major-General Isidro de Morais Pereira, a propósito da eventual intervenção militar norte-americana no Irão (inevitável), usou o termo exfiltração, que a Porto Editora define assim: «MILITAR operação de retirada do efectivo responsável por incursão em território inimigo». Correcta, mas restrita: ao limitar-se a «retirada do efectivo responsável por incursão», a definição exclui casos, nada raros, pelo contrário, em que o pessoal exfiltrado não participou em incursão nenhuma, como, por exemplo, numa evacuação de reféns; num resgate de operacionais encobertos, numa retirada de pessoal diplomático ou de inteligência. Assim, proponho: exfiltração MILITAR retirada clandestina de forças, agentes ou pessoal civil de território inimigo ou zona sob controlo hostil, geralmente após missão ou em situação de risco.

      A definição foi alargada para incluir agentes e civis, não apenas efectivos de incursão, e foi introduzido o carácter clandestino da operação, ausente na formulação anterior, para garantir simetria conceptual com infiltração.

[Texto 21 430]

Léxico: «anaconda-verde»

Já temos uma

 

      A Porto Editora tem a anaconda-amarela (Eunectes notaeus) e ali bem perto, no Zoo Santo Inácio, em Gaia, está a anaconda-verde (Eunectes murinus). Deve ser parte de um acordo de parceria. «As anacondas-verdes podem ser encontradas perto de zonas húmidas e são excelentes nadadoras» (Joana Moreira Soares, Jornal de Notícias, 15.06.2025, 1h46).

[Texto 21 429]