Definição: «buraco de verme»
Deixem lá as minhocas em paz
A Porto Editora regista no seu Dicionário da Língua Portuguesa «buraco de minhoca ou buraco de verme» com a definição: «atalho hipotético entre dois pontos muito distantes no espaço-tempo, também conhecido como ponte de Einstein-Rosen». Embora a definição esteja correcta, a equiparação terminológica entre minhoca e verme levanta reservas sérias do ponto de vista científico e linguístico.
O termo inglês wormhole é uma metáfora abstracta, não zoológica, e tem sido vertido em português europeu técnico e académico como buraco de verme — forma consagrada em manuais de Física, obras de divulgação científica e textos universitários. A escolha de «verme» não é arbitrária: trata-se de um termo genérico e neutro, usado em taxonomias biológicas e por extensão metafórica em diversos domínios técnicos (verme intestinal, verme de computador, etc.). «Minhoca», pelo contrário, é um termo específico e popular, que remete para um anelídeo terrestre em particular (Lumbricus terrestris), com forte carga imagética e informal. Ao traduzir wormhole por buraco de minhoca, o dicionário enfraquece a abstração necessária do conceito e aproxima-o indevidamente de um universo concreto e zoológico que nunca foi pretendido — nem pelo original, nem pelo uso especializado em português.
É verdade, infelizmente, que, como em tudo, há excepções: alguns textos jornalísticos ou de divulgação simplificada optam por «minhoca» para tornar a ideia mais acessível ou porque o autor não reflectiu bem. Acontece, não é? Mas isso não justifica que o dicionário legitime a forma mais infeliz em pé de igualdade com a correcta. No mínimo, deveria indicar buraco de verme como forma preferida no português técnico e académico.
[Texto 21 431]