Nada demoníaco
Fala-se aqui num romance (no prelo) no demónio de Laplace. Uma personagem (real) pergunta a outra se sabe o que é. Não sabia — e eu também não sabia que o dicionário da Porto Editora não acolhe o vocábulo laplaciano. Quanto ao demónio (ou intelecto) de Laplace FILOSOFIA, FÍSICA entidade hipotética concebida por Laplace no século XIX, dotada de conhecimento absoluto das leis da Natureza e do estado de todas as partículas do Universo num dado instante, que, com base nesses dados, poderia prever todos os acontecimentos futuros e reconstruir integralmente o passado, simbolizando assim uma concepção determinista do mundo; também chamado intelecto de Laplace.
Curiosamente, o romance desenvolve ainda a ideia num diálogo delicioso em que se argumenta que até a escolha de um prato de grão-de-bico pode ser lida como efeito inevitável de causas anteriores — uma mise en abyme do determinismo laplaciano em forma de ementa. E há até uma personagem que vai mais longe, sugerindo que Deus, no seu saber absoluto, é, no fundo, uma espécie de demónio de Laplace — com auréola ou com a imortalidade inscrita nos genes.
[Texto 21 198]