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Linguagista

«Pacta sunt servanda»

Ainda o latim

 

      Para não haver divergências na interpretação, o presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli, disse-o em latim: «Pacta sunt servanda». É um antigo adágio jurídico que significa «os pactos são para cumprir». Ouvi a notícia ontem num qualquer canal, e o pivô não disse, se é que sabia, o que significa. Talvez provenha de uma obra ulpiniana, mas eu já nem quero que este adjectivo vá para os dicionários, isso já seria sonhar, mas, agora que tem o Dicionário de Locuções Latinas e Expressões Estrangeiras, a Porto Editora deve recolhê-lo. Que sirva, pelo menos, para os jornalistas saberem.

 

[Texto 13 564]

O latim mal usado

Limite-se ao português

 

      «Na última semana a Suécia foi o país com mais mortes per capita da Europa» (Maria João Guimarães, Público, 21.05.2020, p. 10). Há muito que não me ria com tanto gosto. Primeiro, quando li o título, quis ignorar, mas depois um leitor confessou-me a sua estranheza pelo uso da locução latina neste contexto e cá estou. (E outro leitor chamou-me a atenção para a incongruência, que depois comprovei, do corpo do artigo.) Maria João Guimarães, aqui, as contas não são feitas por cabeça — mas por milhão de cabeças! Se não sabe usar expressões estrangeiras, não o faça, limite-se a escrever em português.

 

[Texto 13 423]

Meu rico latim

Antes permanecesse ignorada

 

      Uma turma, acompanhada do biólogo Miguel Porto, de uma escola foi fazer uma visita ao campo para observar diversas espécies, ali para os lados do Poceirão, Setúbal. Vai daí — tropeçaram com espécimes da Elatine brochonii, planta que não se sabia que existia em Portugal. O que pretendo dizer? Elatine não tinha de estar nos dicionários? Bem, mas não é por isso que escrevo este texto. No programa Código Postal, na rádio Observador, falaram desta descoberta. O jornalista Miguel Viterbo Dias pronunciou várias vezes — desafiado pelos colegas de programa — o nome científico da planta. Até parecia que os outros o consideravam autoridade na matéria. Pois bem, nem uma vez o pronunciou bem. Esta pequenina planta foi descoberta em 1883 numa lagoa de Saucats, em França, pelo advogado — e botânico nos tempos livres, ou ao contrário, não sei ­— Brochon (1833-1896). O nome foi-lhe dado, em homenagem ao seu descobridor, por Clavaud (1828-1890). Vamos ao que interessa: nunca a palavra brochonii, latim científico, se podia pronunciar como aquele jornalista o fez repetidamente, /brocsoni/. Não, não: aquele dígrafo era em latim equivalente ao χ (qui) grego; logo, o h seria aqui consoante ociosa.

 

[Texto 12 824]