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Linguagista

A maldição do «mesmo»

O que nos aconteceu?

 

      «Por insegurança linguística, medo de errar, é comum a gente enfeitar a prosa, trocando por exemplo ter por possuir, estar por encontrar-se, qualquer coisa ou pessoa mencionada anteriormente por (aaargh!) “a mesma”» («A hipercorreção se trata de erro», Sérgio Rodrigues, Folha de S. Paulo, 9.03.2023, p. B3). Maldição que já aportou, para meu grande espanto, nas traduções. Como é isto possível? Que conhecimento é este da língua que leva um tradutor, que tem de possuir conhecimentos mínimos do instrumento de trabalho, a expressar-se como a maioria dos polícias? Até o ChatGPT, mero papagaio, faz melhor.

 

[Texto 17 884]

Como se escreve por aí

Sim, ele de novo

 

      Mas a culpa é dele, não minha. «Luís Montenegro chegou todo orgulhoso com a sua pergunta sobre a eutanásia. Se houvesse um referendo, a pergunta que o PSD gostaria de colocar aos portugueses era esta (não se esqueçam de respirar antes): “Concorda que a morte medicamente assistida não seja punível quando praticada ou ajudada por profissionais de saúde por decisão da própria pessoa, maior, cuja vontade seja atual e reiterada, séria, livre e esclarecida, em situação de sofrimento de grande intensidade, com lesão definitiva de gravidade extrema ou doença grave e incurável?”» («A eutanásia, os cuidados paliativos e as listas de espera», João Miguel Tavares, Público, 13.12.2022, p. 40). João Miguel Tavares já alguma vez ouviu alguém com a antiga 4.ª classe a dizer «colocar uma pergunta»?

 

[Texto 17 368]

Os jornalistas e as colocações

Prossegue o descalabro

 

      De quando em quando, é bom lembrar que se escreve desta maneira: «Começam a chegar os ventos da campanha eleitoral. Com eles chega também o tempo de todas as interrogações. É durante a campanha eleitoral que se colocam as perguntas e se exigem respostas claras» («Perguntas sem resposta», António Capinha, Diário de Notícias, 24.12.2021, p. 9).

      Como é que um jornalista experiente cede a estes modismos, a estes assassínios da língua? Pois, não sabem e eu também não.

 

[Texto 15 808]