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Linguagista

A confusão de ortografias

A perder o norte

 

      Claro que já reparei há muito que andas a misturar as grafias, Porto Editora, e até já te chamei pelo menos uma vez a atenção para o erro. Vejamos outro exemplo. No verbete de sarauí, dizes que é «relativo ao Sara Ocidental, território no noroeste de África que foi uma antiga colónia espanhola». Contudo, em Amaras já escreves — e bem! — assim: «ETNOGRAFIA grupo étnico africano que está presente sobretudo no Noroeste da Etiópia».

 

[Texto 20 335]

Como se escreve por aí

E ainda pagamos

 

      «O JN apurou que, depois de diversos contatos telefónicos a que António Afonso não respondeu, os familiares preocupados dirigiram-se, cerca das 22 horas de anteontem, à habitação e encontraram o antigo autarca sem vida» («Antigo presidente de Ourique encontrado morto em casa», T. C., Jornal de Notícias, 8.09.2024, p. 16). O jornalista Teixeira Correia ainda não aprendeu que não é assim que se escreve. Doze anos depois de o Acordo Ortográfico de 1990 andar por aí a fazer estragos, as suas regras mais elementares ainda não foram interiorizadas.

[Texto 20 242]

Sobre «terramoto»

Os da terra

 

      «Faz pouco, houve mais um terremoto (os da terra dizem terramoto) na região de Sines, em Portugal com 5.3 graus na Escala Richter, às 05:11hs, sentido sobretudo nas regiões de Setubal e Lisboa. Sem vítimas ou maiores consequências, ainda bem. Voltemos ao passado» («Sobre Portugal, o Brasil e os terremotos», José Paulo Cavalcanti Filho, Jornal do Commercio, 13.09.2024, p. 31).

      Como dizem os da terra... Soubemos ensinar-vos bem, mas depois optámos por dizer «mal». Na verdade, José Paulo Cavalcanti Filho, é menos por ignorarmos a língua portuguesa do que por desconhecermos a latina que dizemos terramoto. Até determinada altura, sempre e só se disse «terremoto» em Portugal. Contudo, no século XVIII já os gramáticos advertiam nas suas obras que se devia dizer «terremoto» e não «terramoto» — prova inequívoca de que já se ia usando esta última. E pronto, o resto já conhecem… com o rolar dos tempos, impôs-se esta variante, que eu nem ameaçado com uma pistola concordaria ou afirmaria que é incorrecta. Esta variante, assim a reputo, formou-se dentro da língua, é uma forma legítima e, ao que me parece, cunhada por analogia, já que, designando um tremor de terra, natural é que se desse essa dissimilação. Popular, corruptela, é a forma «tarramoto». (E agora gostava que o nosso cronista-advogado atentasse na trapalhada que escreveu: «5.3 graus na Escala Richter, às 05:11hs». Despiorando, seria assim: «5,3 graus na escala de Richter, às 5h11». Não tem de quê. E saiba, como bónus, que se escreve «Setúbal». É bem verdade que na rádio e na televisão portuguesas, habitualmente, vá-se lá saber porquê, é mal pronunciada por muitos jornalistas, mas nunca mal escrita.)

[Texto 20 229]