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Linguagista

Se até linguistas...

Inacreditável

 

      «E, aqui entre nós, e que ninguém nos ouça, Cândido de Figueiredo errou, e errou feio, o imperativo do verbo abster-se: “Mutilai, esmagai ou abstei-vos”... (“A vida das abelhas”, [Maurice Maeterlinck] trad., 3.ª ed., cap. V, p. 114)» (Goyaz, Terra & Alma, Guimarães Lima. São Paulo: Horizonte Editora, 1983, p. 88). Filólogo e gramático! Os estragos que terá feito entretanto, com largas dezenas (!) de edições. Ainda está por aí à venda. (E eu vendo o meu exemplar, o 1416, do Vocabulário da Língua Portuguesa, de Rebelo Gonçalves, por 1000 euros. É pegar ou largar.)

 

[Texto 18 982]

O pobre verbo «abster»

Felizmente não é assim

 

      Se se fizesse a pedido de várias famílias (sobretudo de — olha que coisa! — tradutores e outros escribas), já o verbo abster teria sido extinto. Demasiado complicado. Como o verbo haver, afinal, que também não dominam. Tudo porque se recusam a encasquetar na cabeça que os verbos abster, ater-se, deter, entreter, manter, reter, suster e mais alguns se conjugam pelo modelo do verbo ter: tiver — abstiver. «Se eu não me abstiver.» Claro que os dicionários deviam chamar a atenção para o modelo: «Conjuga-se à semalhança do verbo tal.» Somos esmagados entre a preguiça de uns e de outros.

 

[Texto 18 965]

Léxico: «dignar»

Antigo, mas necessário

 

      «Por isso, não deverá seguramente surpreender que, por um longo período de tempo, os filósofos tenham continuado a considerar as plantas “imóveis”, sem as dignarem com ulteriores reflexões» (Verde Brilhante, Stefano Mancuso e Alessandra Viola. Tradução de Isabel Canhoto e revisão de Maria de Fátima Carmo. Lisboa: Gradiva, 2016, p. 20).

      Temos aqui um pequeno problema: não se usa actualmente o verbo transitivo dignar. O dicionário da Porto Editora nem sequer o acolhe — mas faz mal, evidentemente. Como verbo transitivo é antigo, e por isso a solução para este caso concreto, para a tradução, seria outra. Digna de nota é também a ausência nos dicionários de uma breve explicação sobre o verbo dignar-se — como se todos os falantes dominassem a matéria, quando, na realidade, nem sequer todos os que deviam, ou julgam, dominar acertam em todos os casos.

 

[Texto 18 353]