A importância de se chamar Prevost
Certezas e esperanças
«Sendo praticamente certo que nenhum eleito optará por chamar-se Bento XVII, João Paulo III ou Paulo VII, a escolha recairá, com elevado grau de certeza, em Francisco II ou João XXIV» («Próximo Papa vai chamar-se João XXIV ou Francisco II», Secundino Cunha, Correio da Manhã, 6.05.2025, p. 10).
Isto é que são certezas — vá, quase certezas. Leão XIV. Os papas não escolhem os nomes ao acaso. Leão XIII foi, consensualmente, um dos papas mais marcantes dos últimos cento e cinquenta anos. Para começar, foi o primeiro papa moderno a tratar de forma directa e sistemática as transformações sociais causadas pela Revolução Industrial, com a encíclica Rerum Novarum, que deu início a toda uma tradição de pensamento social católico que perdura até hoje.
Mas pode haver uma relação críptica entre o nome escolhido por Robert Francis Prevost e o Papa Francisco: um dos companheiros mais próximos de São Francisco foi Frei Leão, um frade de humildes origens que se tornou confidente e secretário pessoal do santo e que permaneceu ao seu lado até à sua morte. O pai do Papa Leão XIV tinha ascendência francesa e italiana, enquanto a mãe era de origem espanhola. Prevost (ou Prévost, na grafia original) é um apelido de origem francesa, comum em regiões francófonas, especialmente no Norte de França e no Quebeque, e deriva do latim praepositus, que designava originalmente alguém posto à frente, como um superior ou administrador (por exemplo, o prévôt era uma espécie de magistrado ou oficial local no Antigo Regime francês). Mas não só, pelo que Leão XIV já levava o destino no nome: no âmbito religioso, prévôt (preboste em português) era o título atribuído, sobretudo na Idade Média e em estruturas canónicas mais antigas, ao membro do cabido que presidia ao conjunto dos cónegos, função que em muitos casos passou a ser ocupada pelo deão (lat. decanus). Nalguns contextos religiosos, especialmente nos capítulos regulares (compostos por religiosos e não apenas cónegos seculares), o preboste mantinha-se como figura autónoma e superior, distinto do deão.
[Texto 21 266]