Agora é a vez de Cohen
Presente, mas não pronto
«O coro feminino que acompanha a voz narrativa de Cohen persegue-o em crescendo enquanto ele entoa: “Um milhão de velas ardendo pela ajuda que nunca veio/ Hineni Hineni, meu Senhor”. A expressão hebraica que usa no último verso significa “estar pronto” — a mesma utilizada na Bíblia quando Abraão responde a Deus sobre o sacrifício do seu filho, Isaac, para o qual pensa estar preparado» («Podemos dar o Nobel a Cohen?», Mariana Lima Cunha, Expresso Diário, n.º 707, 24.10.2016).
Pronto, já está toda a gente a ver aqui a despedida de Cohen. No fundo, estão frustrados por não terem visto o mesmo no Lazarus de Bowie, que dizem agora que era premonitório. E será mesmo que hineni, transliteração do hebraico הִנֵּֽנִי, significa «estar pronto»? O que leio, aqui e ali, é que significa «eis-me aqui». Claro que, chegados ao Além, se dissermos «eis-me aqui», o que pretendemos dizer é que estamos prontos, mas pode haver quem diga presente — «eis-me aqui» —, e acrescente que não está pronto. Será castigado?
[Texto 7181]