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Linguagista

Contra a violência machista

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      «Num discurso dirigido ao eleitorado centrista, ao qual tentou mostrar que já não há razões para ter medo do PSD, referiu o 25 de Novembro como o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres – de certa forma, corrigindo o acto falhado misógino de chamar “Cinderela” a Mariana Mortágua. E, como António Costa tinha feito no congresso da sua entronização, em 30 de Novembro de 2014, homenageou as 25 mulheres mortas este ano às mãos da violência machista» («Montenegro “mata” Passos, faz o seu melhor discurso e pode ganhar», Ana Sá Lopes, Público, 26.11.2023, p. 32).

      Ainda recentemente pudemos ler também no Público um artigo de opinião em que se defendia o uso desta expressão — violência machista —, usada em Espanha, ainda que ali o ordenamento jurídico até utilize outra, «violência de género», em detrimento de violência doméstica. Não posso concordar. Ainda que o crime se consuma ou tente junto de uma escola, no local de trabalho, noutro sítio qualquer, é, em última instância, ao lar, à vida doméstica e à sua complexa rede de relações que diz respeito: o marido ou companheiro que agride a mulher; a mulher que exerce violência sobre o companheiro; um neto que maltrata os avós, etc. Pode predominar, é o que indicam as estatísticas e empiricamente sabemos, o homem como agressor, mas o problema não é o homem nem a mulher, mas sim a forma como as pessoas, que se encontram ligadas por algum vínculo, se relacionam entre si. Afinal, se um homem der uma navalhada numa vizinha, não estamos perante violência machista nem doméstica. Talvez seja tempo de não pôr tudo no mesmo saco.

 

[Texto 19 029]