Definição: «caixa de Pandora»
Ignarus fuisti
Já agora, Porto Editora, convém que definas da mesma forma caixa de Pandora e boceta de Pandora (esta mais ouvida no Brasil — e já se está a ver porquê). Na verdade, não era uma caixa nem uma boceta, e o culpado, como tantas vezes, foi o tradutor. (Pithum legit, pyxidem scripsit — sic nascitur fabula.) O original grego de Hesíodo usa a palavra πίθος (pithos), que designa uma jarra grande de cerâmica, daquelas usadas para guardar vinho, azeite ou cereais, muito longe da ideia de uma caixinha de madeira ou de marfim. O erro surgiu quando Erasmo de Roterdão, ao traduzir o texto para latim no século XVI, interpretou mal o termo e escreveu pyxis, que quer dizer caixa ou, vá lá, boceta. (E, claro, não estava lá o revisor.) A confusão pegou e atravessou os séculos. Resultado: onde havia um vaso imenso, ficou uma caixinha e com ela toda uma imagem simbólica que já ninguém questiona.
[Texto 21 551]