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Linguagista

«Domingo de Ramos da Paixão do Senhor | Quaresma»

Da religião

 

      «Estamos abrindo aquela semana que a Igreja chama de Semana Santa. Neste domingo evocam-se dois mistérios: a Entrada de Jesus em Jerusalém e sua Paixão. Por isso, este dia litúrgico é chamado de Domingo de Ramos da Paixão do Senhor, mais exatamente seria “Domingo da Paixão do Senhor nos Ramos”» (O Ano Litúrgico, Frei Alberto Beckhäuser. Petrópolis: Vozes, 2018, p. 49). Não vejo este domingo nos nossos dicionários. Outra definição que podia estar bem melhor é a de Quaresma, que está assim no dicionário da Porto Editora: «[com maiúscula] RELIGIÃO período do ano litúrgico católico, que decorre, como preparação penitencial da Páscoa, desde Quarta-Feira de Cinzas». Primeiro, era útil precisar o tempo da Quaresma, que se estende por seis domingos — chamados I, II, III, IV, V e Domingo de Ramos da Paixão (VI) —, assim como lembrar que evoca os quarenta dias de jejum vividos por Jesus no deserto antes de empreender a sua missão pública. «Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Depois de ter jejuado quarenta dias e quarenta noites, no fim teve fome.» Ainda que fosse nos nossos dias, não seria mais fácil, pois nem a Uber Eats nem a Glovo têm serviço nessas regiões inóspitas. O 40 é um número muito simbólico na Bíblia. Virá daqui o tempo (e o nome) das quarentenas?

      «O mais do que isto/ É Jesus Cristo,/ Que não sabia nada de finanças/ Nem consta que tivesse biblioteca...», escreveu Pessoa, mas nós temos de ter tudo isto clarinho nos dicionários, ou perder-se-á na voragem dos tempos. A propósito de Pessoa: não haverá nenhum português que nos últimos trinta anos tenha surrado os bancos da escola que não ouvisse ou lesse a expressão «obra édita» (pode é não se lembrar, mas esse problema não se trata neste departamento), e, contudo, em nenhum dicionário vemos «édito» neste sentido.

 

[Texto 13 326]

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