Falsos amigos: «anecdote»
Está a tornar-se um hábito
Fui ver a peça Últimos Remorsos antes do Esquecimento, de Jean-Luc Lagarce, pelo Teatro Experimental de Cascais. Desta vez, a tradução da obra foi de Alexandra Moreira da Silva, com revisão de Graça P. Corrêa. Mais uma vez, porém, um falso amigo traiu a tradutora e a revisora (que também já caíra no mesmo tipo erro na tradução de Electra, de Eugene O’Neill, também levado à cena pelo TEC), o que já parece uma maldição. Assim, quando a personagem Antoine (encarnada pelo actor Sérgio Silva), marido de Hélène, diz a Anne «j’ai plein d’anecdotes sur la question ne plus me souvenir du nom de quelqu’un que je connais très bien» (Derniers remords avant l’oubli. Besançon: Solitaires Intempestifs, 2003, p. 16), evidentemente não são as nossas anedotas, como foi traduzido, mas historietas, episódios. Se passou este erro, básico, decerto há por lá outros, mas eu não estava lá como revisor, mas como espectador, e não tive acesso ao guião. Quanto ao principal, muito bem, óptima peça, bem encenada, excelentemente interpretada. Não tenho o guião, disse. Tenho, porém, a edição de 2005 dos Artistas Unidos/Cotovia, da «Colecção Livrinhos do Teatro», com tradução da mesmíssima Alexandra Moreira da Silva, em que vejo na página 113 o erro. Não se percebe, pois, o que fez a revisão.
[Texto 19 682]