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Linguagista

Léxico: «auxílio-gás»

O meio e o fim

 

      «O governo anuncia nos próximos dias a reformulação do desenho do programa de auxílio-gás. A nova proposta prevê o financiamento do benefício somente com despesas orçadas no Orçamento, e a ideia é gastar em 2025 0 mesmo valor da versão atual, em torno de R$ 3,5 bilhões» («Novo auxílio-gás deverá custar R$ 3,5 bilhões em 2025 e será bancado por corte de despesas», Adriana Fernandes, Folha de S. Paulo, 7.12.2024, p. A21).

      Mais um para juntar aos que já se encontram no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora: auxílio-desemprego, auxílio-doença, auxílio-enfermidade, auxílio-funeral, auxílio-maternidade, auxílio-moradia, auxílio-mudança e auxílio-natalidade. No contexto brasileiro, estas palavras por justaposição são frequentemente utilizadas para denominar benefícios sociais ou assistenciais, combinando o vocábulo «auxílio» com outro substantivo que especifica a natureza do benefício. Ora, a composição é igual à que encontramos em vocábulos portugueses para designar igualmente a intervenção estatal no apoio ao cidadão em situações específicas, como cheque-dentista, cheque-ensino, cheque-livro, cheque-nutricionista e cheque-psicólogo. Isto reforça como a língua se adapta ao contexto cultural e administrativo de cada país, mas mantém uma lógica comum na formação das palavras. No fundo, há uma diferença: estes termos compostos brasileiros apontam para o fim, o objectivo («auxílio»), ao passo que os portugueses apontam para o meio («cheque»). Ambas as abordagens são linguística e funcionalmente válidas, mas reflectem perspectivas diferentes: uma mais orientada para o propósito do auxílio e outra para o instrumento por meio do qual ele é concretizado, o que ilustra como a língua não só descreve realidades, mas também organiza a percepção dessas realidades de maneira distinta em diferentes culturas.

[Texto 20 606]

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