Léxico: «coronel tirocinado»
CORTIR
«O Exército Português vai, a partir de 2019, começar a usar de forma gradual um novo fardamento, armamento, equipamentos de comunicação e sistemas de informação, anunciou esta sexta-feira o chefe da Divisão de Planeamento de Forças do Estado-Maior do Exército. O coronel Tirocinado João Boga Ribeiro explicou que este Programa “Sistemas de Combate ao Soldado”, apresentado em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, visa dotar o militar com todos os equipamentos de combate utilizados de forma integrada e incremental» («Exército terá novas fardas e armas em 2019», Rádio Renascença, 2.02.2018, 21h32).
Qual é o paisano que não vai pensar que o nome do chefe da Divisão de Planeamento de Forças do Estado-Maior do Exército é Tirocinado João Boga Ribeiro? Pois é, poucos, e com a decisiva ajuda da inépcia do jornalista, menos do que os desejáveis. Vamos lá ver, porque não escreveu «coronel tirocinado»? Eu sei muito bem que tirocinado significa o que fez tirocínio ou o que tem experiência prática em determinada área, mas o meu vizinho não sabe. Os leitores sabem, mas os vossos vizinhos não sabem. Vamos encontrar a definição no artigo 247.º do Decreto-Lei n.º 236/99, de 25 de Junho de 1999, que aprovou o Estatuto dos Militares das Forças Armadas: «O oficial com o curso superior de comando e direcção, quando coronel, designa-se por coronel tirocinado (CORTIR).» Parece-me óbvio que os dicionários gerais da língua deviam registar a expressão. De contrário, para onde se deve virar o falante? Já vimos que não vale a pena ir perguntar ao vizinho.
[Texto 8670]