Léxico: «fêndula»
Não é pelo provérbio
Fernando Alves, no último episódio de Tão Longe, Tão Perto, na Antena 1, esteve em Pobral, ali entre Sintra e a Ericeira, onde falou com várias pessoas. Uma delas era António Ferreira, um pequeno agricultor de 70 anos que se desloca na sua moto-quatro e nunca teve nem quer ter telemóvel. Feliz! Quando calha ou lhe pedem, fala em verso, mas não é por isso que o trago aqui, mas porque, numa conversa sobre coisas do dia-a-dia, usou a palavra «fêndula». Só um dicionário a regista, pelo que vi, o que diz bem da extraordinário que isto é. À partida, achava-a mais verosímil na boca do meu professor de Latim, poeta de mérito, ainda que desconhecido. (Às tantas, também disse: «Há sol que rega e chuva que seca.» Fernando Alves quis que ele explicasse, como se fosse alguma coisa nova ou inteiramente saída do génio do homem, quando não passa de um provérbio e mera comprovação empírica de quem cultiva a terra. Isto também é estranho.)
[Texto 19 528]