Léxico: «ligatura»
Miscelânea
A propósito de originalite: ontem, quando a tempestade pós-tropical começava a fustigar-nos, com as janelas a ameaçarem estilhaçar-se, pus-me a ler o que tinha mais à mão, e saiu a última revista da SPA. Só agora é que sei que era a última edição, porque, como começo sempre a ler do fim, deparei com o obituário de Altino do Tojal, que eu pensava que já tinha morrido há trinta ou quarenta anos, e tive de ir ver a data na capa. Lá estava: Julho/Setembro de 2018. Isto de usarem fotografias do defunto de há quarenta ou cinquenta anos também é uma pecha muito parva. Enfim, o autor dos Putos morreu este ano (1939-2018), e vou redimir-me lendo na íntegra a obra pela qual é mais conhecido. Mais censurável, a meu ver, é a Infopédia dizer-nos que Altino do Tojal ainda é vivo. Passei a página e que encontro? Isto: «António Arnaut (1936-2018), criador do SNS, escritor e pœta». Assim mesmo, pœta. Com a ligatura œ. Qual gralha, seus ingénuos! Na mesma página obituária, lá está: «Albano Martins (1930-2018), pœta e tradutor premiado». Diga-se, muito a propósito, que quem não souber o que é ligatura também não o saberá lendo a definição do dicionário da Porto Editora: «na escrita, traço que une uma letra a outra, em certos caracteres». Outra originalidade nesta revista: o zero aparece sempre traçado, para não o confundirmos com o O maiúsculo. Nem tudo, porém, é mau: não segue o Acordo Ortográfico de 1990. Para estragos, basta o Leslie.
[Texto 10 104]