Léxico: «lira | rouparia | roupeiro | coadeiro»
Numa queijaria
«Chegamos ao Vimieiro pela manhã, e Joana Garcia apresenta-se como uma executiva. É uma mulher de negócios com uma alegria contagiante que não contamina a determinação com que construiu do zero uma queijaria onde se produz aquele que é hoje reconhecido como um dos melhores queijos do Alentejo. A roupa elegante é rapidamente coberta com o vestuário de segurança para se entrar na fábrica. De touca na cabeça e até com o sotaque alentejano mais vincado, pega na lira e corta dezenas de litros de leite coalhado. Faz uma quadrícula metódica, traça diagonais com destreza, e em seguida põe os braços a fundo» («Doze mulheres que fazem uma equipa de sonho», Fortunato da Câmara, «Revista E»/Expresso, 19.08.2022, p. 26).
Estive quase para lhe dar o título «Numa rouparia» — e só depois fui verificar se este sinónimo de «queijaria» usado correntemente no Alentejo está nos dicionários. É o está. Nada. Nem, pois claro, «roupeiro» como sinónimo de «queijeiro», o fabricante de queijo. Como também não encontro nos dicionários coadeiro, pano sobreposto pelo qual se coava o leite e que — oh génios! — veio dar nome à divisão, à actividade, e a quem fabrica o queijo. Quase se alcançava o desiderato de muitos, que era os dicionários não avançarem um milímetro, porque tinham tudo o necessário. Enganaram-se.
[Texto 16 864]