Léxico: «medialecto | jornalês»
Para nos compreendermos
«“Medialecto” é um neologismo para designar a linguagem dos media, o idioma que eles constroem ou amplificam, quer por motivações ideológicas (conscientes ou inconscientes), quer por puro idiotismo (“idiotismo” é uma palavra que tem a mesma etimologia de “idioma”. O que pode leva [sic] alguém a escrever ou dizer “A taxa de mortalidade infantil disparou em Portugal” sem perceber que se trata de uma frase absurda, isto é, sem sentido? Como é que a mortalidade infantil dispara o que quer que seja? E, no entanto, todos nós percebemos o que ela significa porque já estamos familiarizados com o seu uso. Mas a dimensão pragmática da linguagem não justifica tudo, e a prova é que fora do idioma a que Karl Kraus chamou “jornalês” ninguém ousa dizer ou escrever esta barbaridade» («Livro de recitações», António Guerreiro, «Ípsilon»/Público, 3.05.2019, p. 2).
Não posso concordar com António Guerreiro — porquê disparate? Só porque não está em todos os dicionários? Podia não estar em nenhum! É um sentido figurado que até pode ter tido origem nos jornais — logo, jornalês puro —, mas já faz parte da paisagem lexical portuguesa; é como escreve, «já estamos familiarizados com o seu uso». Medialecto e jornalês é que ainda não estão nos nossos dicionários.
[Texto 11 514]