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Linguagista

Léxico: «rambana», «ranconce»

As voltas que as palavras dão

 

      «A crescente perda de variedades genéticas de muitas sementes é uma ameaça para a humanidade. Consciente disso, a autarquia de Paredes de Coura e a Associação Quinta das Águias, em colaboração com o agrupamento de escolas de Paredes de Coura, organiza este sábado, 17 de fevereiro, mais uma Feira de Troca de Sementes. [...] Uma das espécies que tentam preservar é a batata rambana. Vítor Paulo Pereira acredita que a chave é o conhecimento. “Aqui há tempos um senhor queria plantar relva à frente de casa. Disse-lhe: não faça isso. No mundo rural plantar relva é como fazer uma piscina quando se tem uma casa em frente ao mar. Plante erva-castelhana, um produto do Norte peninsular, que se adapta muito bem e até é mais bonita” («Semear o futuro com batata rambana», TSF, 16.02.2018, 8h50).

      Erva-castelhana está no Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, mas não rambana, linguisticamente mais interessante. Um lexicógrafo terá a tentação de afirmar que é de origem obscura, mas estaria muito longe da verdade. A variedade chegou-nos das Ilhas Britânicas e o nome original é... Arran Banner. A certa altura, era a preferida em Portugal, porque se cria com pouca água, está pouco tempo na terra e produz bem. Claro que pronunciar tal nome era coisa arrevesada, e por isso o povo deitou fora a sílaba inicial e enjeitou o r final, obtendo uma só palavra — rambana. Aliás, fez o mesmo ao nome de uma variedade escocesa, Arran Consul — deu ranconce em português. São as voltas que as palavras dão. Fica assim claro que não é apenas a variedade de sementes que temos de preservar, mas as próprias palavras, património igualmente valioso.

 

[Texto 8750] 

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