Léxico: «vinagreira»
Não é o recipiente
«A trabalhar nesta modalidade, e com vinagres no mercado, destacam-se os de Moura Alves, Quinta das Bágeiras e Quinta da Pedreira. São todos feitos na região bairradina e orientados por Rui Moura Alves que há já várias décadas iniciou este processo, mantendo ativa uma vinagreira onde muitos milhares de litros se vão, lenta (mas mesmo...) muito lentamente, transformando em vinagre. Estes vinagres bairradinos também se apresentam em pequenas embalagens de spray, muito úteis para temperar saladas, por exemplo. Idealmente uma vinagreira é um local arejado, protegido da incidência direta do sol mas sujeito às variações de temperatura e humidade ao longo do ano. Por baixo de um telheiro e com chão em terra batida e já não precisamos de mais» («Milagres com vinho azedo», João Paulo Martins, Expresso, 17.03.2019, 17h00). Ora, no último Refeitório, de Joana Barrios, o convidado foi Tiago Macedo Pires, que mencionou precisamente este vinagre da Quinta das Bágeiras e usou a palavra vinagreira neste sentido de local onde se produz vinagre — «salas à parte onde as bactérias tinham uma festa». Este, o das Bágeiras, é um vinagre artesanal de 10° de acidez natural, envelhecido por dez anos (!) em barricas de carvalho. (Vamos ajudar Tiago Macedo Pires, que usou a palavra «ultraprocessado» e estava com dúvidas: «Não sei se será uma palavra porque tem um hífen.» Não apenas não leva hífen, como, se o levasse, continuava a ser uma só palavra. Tem de rever o conceito.)
[Texto 20 795]