O AOLP90, mais uma vez
Faziam falta os Dez Mil
Quis o destino, e eu não me opus, que o texto n.º 10 000 deste blogue fosse sobre essa maldição chamada Acordo Ortográfico de 1990. Ainda ontem, pelo Messenger, um professor universitário (!), que nunca vi na minha vida, manifestou a sua estranheza por ter encontrado um livro que seguia o AO90 e fora revisto por mim. (Afinal, concluiu-se depois que não, embora não faltem por aí, evidentemente, mas isto tem tão pouca importância, que fica aqui entre parênteses.) Que queria este académico? Pois isso, manifestar a sua estranheza, acabando por dizer que achava que os revisores resistiam à aplicação das novas regras ortográficas. «Resistir», respondo-lhe, incrédulo com tanto alheamento da realidade. «Resistam os leitores: não comprem os livros com o AO90. Se não os comprarem, os editores não os publicam, tão simples quanto isto.» Insiste: «Tinha, porém, ideia de que resistiam. Ou resistiam por terem autores que escrevem em português e não acordês.» Não estará a confundir revisor com accionista? Francamente.
O AO90, então. Todos os dias vejo disparates relacionados com a aplicação das suas regras, regras simplicíssimas, diga-se, e isto em pessoas cujo instrumento de trabalho é a escrita, professores, tradutores, revisores, jornalistas. Uma amostra encontrada hoje: «Criou – sempre acompanhado – a primeira secção de higiene mental num centro de assistência maternoinfantil, os centros psicopedagógicos do Colégio Moderno e de A Voz do Operário, o Centro Infantil Helen Keller (figura com quem conviveu), a Liga Portuguesa dos Deficientes Motores, a Associação Portuguesa de Surdos. Foi diretor do Centro de Saúde Mental Infantil de Lisboa» («João dos Santos, o bom doutor», Mariana Pereira, Diário de Notícias, 17.09.2018, 14h38). Ah, eu sei, lembro-me de aqui falarmos no caso, há dicionários que registam esta grafia avariada. Felizmente, consegui que fosse corrigido num dicionário e num vocabulário. E, todavia, persiste.
[Texto 10 000]