Os exageros de VPV
Nem metade
«Dezenas de analfabetos que gostam de se dar ares fizeram um escândalo com o aparente excesso de erros de ortografia, pontuação e sintaxe dos 2490 professores que se apresentaram à Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades (PACC). Deus lhes dê juízo. Para começar, não há em Portugal uma ortografia estabelecida pelo uso ou pela autoridade. Antes do acordo com o Brasil — um inqualificável gesto de servilismo e de ganância — já era tudo uma confusão. Hoje, mesmo nos jornais, muita gente se sente obrigada a declarar que espécie de ortografia escolheu. Pior ainda, as regras de pontuação e de sintaxe variam de tal maneira que se tornaram largamente arbitrárias. Já para não falar na redundância e na impropriedade da língua pública que por aí se usa, nas legendas da televisão, que transformaram o português numa caricatura de si próprio; ou na importação sistemática de anglicismos, derivados do “baixo” inglês da economia e de Bruxelas» («A estupidez à solta», Vasco Pulido Valente, Público, 30.01.2015, p. 52).
Nem metade disto é verdade. É verdade, e verdade evidente, que o acordo é «um inqualificável gesto de servilismo e de ganância», ainda que ingénuo; é verdade a «impropriedade da língua pública» e a «importação sistemática de anglicismos, derivados do “baixo” inglês da economia e de Bruxelas», mas neste preciso ponto nem o próprio cronista está isento de culpa, muito pelo contrário, como já aqui temos visto e lamentado.
[Texto 5509]