Sintaxe de «preferir»
Não o imitem
«Há duas formas de olhar para isto. Uma, é [sic] desvalorizar, considerando que a opinião de Estrela Serrano está hoje confinada a um blogue e às páginas da Acção Socialista Digital. Não vou cometer tal indelicadeza. Prefiro antes valorizar as suas palavras, relembrando que Serrano foi membro da ERC durante o consulado socrático, e que essa mesma ERC era então dirigida pelo seu parceiro de blogue, hoje patrão do parque nacional de chaimites» («Serrano e a liberdade respeitosa», João Miguel Tavares, Público, 8.12.2015, p. 44).
Nas cervejarias, por exemplo, onde estanciam demoradamente muitos dos comentadores, é que se pode dizer assim. Preferir mais, preferir antes, preferir muito mais e outras que tais são construções populares, sim, mas erradas. Talvez, como alguns autores aventam, estas formas se expliquem pela influência da estrutura clássica comparativa «mais... (do) que». A boa sintaxe exige a construção «preferir uma coisa a outra». As outras construções, erradas, são pleonasmos escusadíssimos, pois em «preferir» já está implícito o sentido de «antes». Gente atenta afirma que Antenor Nascentes rastreou aquela sintaxe em Bernardes, Garrett e Camilo e até (supremo argumento!) noutras línguas, concluindo por isso que não há erro nenhum nas construções «preferir antes» e «preferir do que». Isto é transferir a infalibilidade do papa para os escritores. Pior: é erigir em norma os erros de quem, no demais, foi modelo.
[Texto 6461]