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Linguagista

Sobre «terramoto»

Os da terra

 

      «Faz pouco, houve mais um terremoto (os da terra dizem terramoto) na região de Sines, em Portugal com 5.3 graus na Escala Richter, às 05:11hs, sentido sobretudo nas regiões de Setubal e Lisboa. Sem vítimas ou maiores consequências, ainda bem. Voltemos ao passado» («Sobre Portugal, o Brasil e os terremotos», José Paulo Cavalcanti Filho, Jornal do Commercio, 13.09.2024, p. 31).

      Como dizem os da terra... Soubemos ensinar-vos bem, mas depois optámos por dizer «mal». Na verdade, José Paulo Cavalcanti Filho, é menos por ignorarmos a língua portuguesa do que por desconhecermos a latina que dizemos terramoto. Até determinada altura, sempre e só se disse «terremoto» em Portugal. Contudo, no século XVIII já os gramáticos advertiam nas suas obras que se devia dizer «terremoto» e não «terramoto» — prova inequívoca de que já se ia usando esta última. E pronto, o resto já conhecem… com o rolar dos tempos, impôs-se esta variante, que eu nem ameaçado com uma pistola concordaria ou afirmaria que é incorrecta. Esta variante, assim a reputo, formou-se dentro da língua, é uma forma legítima e, ao que me parece, cunhada por analogia, já que, designando um tremor de terra, natural é que se desse essa dissimilação. Popular, corruptela, é a forma «tarramoto». (E agora gostava que o nosso cronista-advogado atentasse na trapalhada que escreveu: «5.3 graus na Escala Richter, às 05:11hs». Despiorando, seria assim: «5,3 graus na escala de Richter, às 5h11». Não tem de quê. E saiba, como bónus, que se escreve «Setúbal». É bem verdade que na rádio e na televisão portuguesas, habitualmente, vá-se lá saber porquê, é mal pronunciada por muitos jornalistas, mas nunca mal escrita.)

[Texto 20 229]