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Linguagista

As aspas onde não fazem falta

Então vamos ver

 

      «No final de janeiro, Rui Tavares afirmava algo diferente do que agora revelou. Recordo-vos, ou informo-vos, de uma sua declaração na rede social “X”: “O Livre não serve para viabilizar governos de Direita, mas para lhes fazer oposição.” Afinal não era rigorosamente assim. O Livre faz oposição ao mesmo tempo que entra em diálogo» («Rui Tavares em cima do muro», Carmo Afonso, Público, 1.03.2024, p. 40).

      Muito gostava eu de saber por que razão a cronista «Carmo Afonso» pespega aspas num nome próprio. Alguém tem um bom palpite?

 

[Texto 19 458]

O uso indevido das aspas

Continua

 

      «Francisco Silva, António Rocha e João Veiga andaram ontem a ganhar o dia na apanha da azeitona num olival às portas da vila de Sabrosa. “Azeitona bonita, mas com muita água, o que faz dar mais ‘sangra’ do que azeite”, descreveu o primeiro» («“O preço a que o azeite chegou obriga a poupar”», Eduardo Pinto, Jornal de Notícias, 3.12.2023, p. 25).

      Pode ser que os jornalistas das novas gerações se deixem desta parvoiçada de pespegar com aspas nas acepções menos conhecidas (ou desconhecidas deles) dos vocábulos. Uns segundos de reflexão levá-los-iam a abster-se de tal.

 

[Texto 19 137]

A prolixidade na justiça

Uma das causas do nosso atraso

 

      «Mais de três dezenas de reputados advogados, magistrados e juízes subscreveram o manifesto “Contra a prolixidade na justiça penal” em que apelam a que todos os agentes ponham cobro a “uma cultura de excesso, de desperdício de energias e de tempo” e que, “em prol de uma Justiça mais célere e atempada”, produzam peças com o “rigor de forma e a concisão que antes eram seu apanágio”. [...] As decisões judiciais “são o inferno de Dante em laudas burocráticas: os relatórios alongam-se, as citações abundam e o essencial perde-se no meio de toda essa palha”, criticam os signatários, em que se incluem Santos Cabral, Euclides Dâmaso, Maria José Morgado, Norberto Martins, Ricardo Sá Fernandes, Castanheira Neves e Rogério Alves, entre outros reputados agentes da Justiça» («Manifesto contra excesso de “palha” nas peças judiciais», Jornal de Notícias, 27.06.2023, p. 16).

      Enquanto não nos livrarmos desta tralha pseudojurídica, estamos tramados. A quem serve esta prolixidade destrambelhada e esta escolha arrevesada de vocabulário? Os primeiros a lixar-se são eles próprios, agentes da justiça, mas depois, o que é pior, arrastam consigo todos os que se lhes atravessam à frente. Isto é simplesmente um atraso de vida. (Já agora, as aspas desnecessárias nos textos jornalísticos também são palha.)

 

[Texto 18 406]