Uma das causas do nosso atraso
«Mais de três dezenas de reputados advogados, magistrados e juízes subscreveram o manifesto “Contra a prolixidade na justiça penal” em que apelam a que todos os agentes ponham cobro a “uma cultura de excesso, de desperdício de energias e de tempo” e que, “em prol de uma Justiça mais célere e atempada”, produzam peças com o “rigor de forma e a concisão que antes eram seu apanágio”. [...] As decisões judiciais “são o inferno de Dante em laudas burocráticas: os relatórios alongam-se, as citações abundam e o essencial perde-se no meio de toda essa palha”, criticam os signatários, em que se incluem Santos Cabral, Euclides Dâmaso, Maria José Morgado, Norberto Martins, Ricardo Sá Fernandes, Castanheira Neves e Rogério Alves, entre outros reputados agentes da Justiça» («Manifesto contra excesso de “palha” nas peças judiciais», Jornal de Notícias, 27.06.2023, p. 16).
Enquanto não nos livrarmos desta tralha pseudojurídica, estamos tramados. A quem serve esta prolixidade destrambelhada e esta escolha arrevesada de vocabulário? Os primeiros a lixar-se são eles próprios, agentes da justiça, mas depois, o que é pior, arrastam consigo todos os que se lhes atravessam à frente. Isto é simplesmente um atraso de vida. (Já agora, as aspas desnecessárias nos textos jornalísticos também são palha.)
[Texto 18 406]