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Linguagista

O género de «entorse»

Que ambos aprendam e se emendem

 

      «O Presidente da República classificou o diploma como “um entorse significativo [sic] em matéria de regime genérico de ordenamento e planeamento do território”, mas, espantosamente, aprovou-o na mesma, com o argumento mais coçado do último ano: a “urgência no uso dos fundos europeus”. Para esgotar o dinheiro de Bruxelas, todas as entorses são permitidas» («Nova lei dos solos: acelerar o PRR na direcção da parede», João Miguel Tavares, Público, 4.01.2025, p. 48).

      João Miguel Tavares sabe que o vocábulo entorse é do género feminino (só não sabe que não deve grafar os colchetes em itálico); o Presidente da República, ou quem lhe escreve os discursos (também já escrevi discursos para políticos, e muito antes de ser revisor), não sabe. Talvez o redactor de discursos, o speechwriter, tenha consultado o dicionário errado, que também os há e indicam que é de ambos os géneros, ou se tenha fiado na sua imensurável sapiência. Que ambos aprendam e se emendem.

[Texto 20 726]

 

Erros de sempre e para sempre

Este é que é o último

 

      «Dado o ênfase dado à retórica anti-imigração na campanha republicana, Trump e os seus aliados têm repetido, sem citar provas, que um grande número de pessoas que não são cidadãos dos EUA poderá votar nas eleições, mesmo perante os estudos que demonstram que a votação de não-cidadãos é muito rara» («Conspirações e processos: Trump prepara-se para não aceitar a derrota», Paulo Narigão Reis, Público, 31.10.2024, p. 23).

      Tem de ser este o último, para tentarmos que o jornalista Paulo Narigão Reis chegue a Novembro a saber que o vocábulo ênfase é do género feminino. Não tem nada que saber: lembre-se de «fase» e não se enganará. Quanto ao demais, bem, tem de reler sempre o que escreve: «dado o ênfase dado, etc.» Uma entre muitas soluções: «Perante a ênfase dada à retórica anti-imigração na campanha republicana, Trump, etc.» Escrever e não reler é como um alfaiate que entregasse ao cliente o fato apenas alinhavado.

[Texto 20 451]

Género: «naira»

Menino ou menina?

 

      «“Hoje sou o número 290, o que posso fazer?”, perguntou de forma retórica Mohammed Ali Danazumi. O feirante de Kano referia-se ao número da lista de espera a que tinha acedido ao fim de duas horas numa fila. No dia anterior não conseguira levantar dinheiro dos bancos de Kano, um problema que se agravou nos últimos dias devido à introdução de novas notas de naira, a moeda local, e a retirada de circulação das velhas» («Naira velha não vira naira nova. Nigerianos sem dinheiro na mão», César Avó, Diário de Notícias, 13.02.2023, p. 19). Feminino, diz também o VOLP da Academia Brasileira de Letras. Masculino, diz o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora.

 

[Texto 17 723]