Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Linguagista

O estatuto determina-o

É assim

 

    «O corpo fora enviado para Inglaterra onde vive sua mãe, a ex-imperatiz Eugénia. Os funerais foram comovedores» (O Último Cais, Helena Marques. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 3.ª ed., 1994, p. 15).

    Claro que é galicismo, agora menos usado. Em francês é funérailles, plural. Se queremos um plural, usemos exéquias, pompas fúnebres. Já uma vez li, e é verdade, que a palavra «funeral» se emprega no plural ou no singular de acordo com a importância, a projecção social, política ou religiosa do finado. Se for alguém como Nelson Mandela, por exemplo, serão os «funerais»; se for alguém que não beneficiava da fama, será mais modestamente «funeral». Desigualdade na vida e na morte. Puta da vida. Actualmente, só nos jornais se vê — mas nos jornais vê-se de tudo — o plural quando devia ser o singular. E, no entanto, Camilo também usou, talvez em dia menos inspirado, este escusado galicismo.

 

[Texto 6144]

«Fez o que tinha que fazer»

Je n’ai rien à faire

 

      «O Syriza foi eleito em Janeiro deste ano com 36,3% dos votos e um programa que não tem nada a ver com aquele que as instituições exigem que a Grécia aplique. Colocado entre a espada e a parede, Tsipras fez o que tinha a fazer» («Tsipras fez o que tinha a fazer», João Miguel Tavares, Público, 30.06.2015, p. 48).

      São os piores, porque mais insidiosos, estes galicismos sintácticos. Diz-se, em português estreme, decente, nada ter que ver e fez o que tinha que fazer. E mesmo aquele «colocado» está ali só para encher a frase. Veja-se: «Entre a espada e a parede, Tsipras fez o que tinha que fazer.» «Entre Cila e Caríbdis, Tsipras fez o que tinha que fazer.» «Entre a cruz e a caldeirinha, Tsipras fez o que tinha que fazer.»

 

[Texto 6005]